2/13/2009

ENTREVISTA: José Salles


Por: Alex Sampaio

Editor do extinto e polêmico zine Os Mardito, José Salles é um estudioso confesso na arte cinematográfica. Seus comentários sobre cinema são de uma profundidade espantosa, na medida em que abrange principalmente a esfera underground. Nesta excelente entrevista ao nosso blog, ele fala da sua arte de escrever, das suas quadrinizações, do seu amor pelo cinema nacional dos anos 60/70, dentre outras revelações. Confiram o bate-papo:

MinQ: É bom que nossos leitores conheçam um pouco sobre o José Salles:
Salles: Mais um egocêntrico...

MinQ: Os Mardito, seu zine que se tornou polêmico pelo conteúdo forte, fez com que você ficasse bastante conhecido no meio fanzinístico. Por que ele deixou de ser publicado?
Salles: Os Mardito terminou principalmente devido a uma viagem ao exterior, mas já haviam planos para “matá-lo” antes mesmo de viajar...enfim, terminou, mas não terminaram meus projetos em fanzines.


O fanzine é o combustível da alma e nossa liberdade de expressão incontida!


MinQ: Com a parada do zine Os Mardito, seus quadrinhos também foram afetados. Quando veremos novas hqs suas?
Salles: Há planos para novas hqs, sim. O Wace ( Waldivar Cesar ) fez parceria comigo em dois zines de contos e está trabalhando na quadrinização do Anjo do Mal.

MinQ: Qual sua opinião sobre os fanzines como meio de divulgação underground?
Salles: Ah, fanzine é o combustível da alma. Liberdade de expressão incontida, inesgotável, inestimável...

MinQ: Existe uma seguimentação muito forte entre os fanzines. Isso ajuda a divulgar determinada arte ou seria melhor uma globalização das publicações?
Salles: Acho que o fanzine tem sua especialidade: circulação off-mídia, fora da mídia. Muitas vezes o fanzine acaba virando revista e perde sua força, vira um “caros amigos” da vida.

MinQ: Quais quadrinhos tem lido ultimamente?
Salles: Ralf Konig e Lourenço Mutarelli.

MinQ: Existe futuro para a HQ nacional ou teremos sempre que conviver com o que vem de fora?
Salles: Claro que existe. Veja aí, temos o sensacional Emir Ribeiro, que ainda não tem o devido respeito da mídia – foda-se a mídia – mas que tem o nosso respeito, o Edgar Franco, o Renato Coelho, enfim, são tantos que não vou conseguir citar todos. E espero conviver com as coisas boas que vem de fora também, tipo Ralf Konig e Robert Crumb.

MinQ: Seus textos sempre foram o seu forte. Novas quadrinizações deles virão por aí?
Salles: Sim. Tenho muitos planos a respeito. Tenho mantido contatos com o Francis Brandão e deve vir mais coisa por aí.

MinQ: Uma das grandes quadrinizações sua foi a hq Pé de Moleque, com arte do Francis Brandão. De onde vêm suas inspirações para escrever?
Salles: Minha inspiração para escrever vem da vida, da minha e dos outros, dos jornais, das notícias. Charles Buckowisk certa vez escreveu que jamais faltará assunto e/ou inspiração para se escrever. Concordo com o velho bebum!



O Cinema Nacional Entrou no Obscurantismo no Governo Collor!



MinQ: Seus comentários sobre filmes são bem aceitos pelos leitores. Qual sua técnica de avaliação como crítico?
Salles: Desde criança fazia um pequeno arquivo comentando os filmes a que assistia. O espírito dos meus comentários é mais ou menos aquilo mesmo que falo, de maneira simples, com as impressões que tive do filme. Quase não tenho livros sobre cinema em casa, por isso, alguns equívocos aparecem. Não tem essa de ‘entendido’ no assunto. Assisti a milhares de filmes. Adoro cinema e resolvi escrever a respeito descompromissadamente.

MinQ: Qual sua opinião sobre o cinema nacional?
Salles: Adoro assistir a filmes brasileiros, principalmente as produções dos anos 60/70. À partir dos anos 80, a coisa começou a naufragar, até chegar ao obscurantismo total com o governo Collor. De uns anos para cá, a coisa voltou a andar e os filmes voltaram a ser produzidos. Mas bem poucos – ou quase nada – que empolgasse o público. Andaram aparecendo alguns bons, como Um Céu de Estrelas, Os Matadores, Central do Brasil e Boleiros.

MinQ: Como tem sido sua experiência como diretor e roteirísta de filmes?
Salles: Muito divertida. Me dedico muito a isso.



O Cinema de Curta Metragem no Brasil tem Produções de Muito boa Qualidade!



MinQ: Que avaliação se faz a sua participação na comédia Fatman & Robada de 1977?
Salles: Eu não participei desse filme, embora conheça o diretor/roteirista Rogério Balbino e muita gente envolvida na produção. É um ótimo filme. A grande suspresa do cinema independente do ano passado.

MinQ: Como anda o mundo do cinema de curta metragem do Brasil?
Salles: Melhorando. Além da Canibal Produções, do Souza e Baiestorf, há ainda em Chapecó, a Extreme Produções, do Boni Coveiro e do Zambiasi, que já produziram curtas e longas em VHS. Há também o Cleiner Miceno, de Sorocaba, da Banda Joe Coyote, que vem produzindo curtas de muito boa qualidade. Há mais gente, que me desculpem aqueles que não foram citados.

MinQ: Percebe-se que o mestre dos curtas brasileiros é o Petter Baiestorf. Quais outros podemos destacar?
Salles: O Petter Baiestorf é o mestre mesmo. É o precursor de uma nova estética. Em um tempo em que todos lamentavam o fechamento da Embrafilme, ele juntou os amigos, pegou uma VHS e foi fazendo seus filmes. E não posso esquecer de citar outro precursor: O Cesar Souza, que fez vários curtas em super-8 e hoje é o parceiro indispensável de Baiestorf.



Com uma idéia criativa, basta um ou dois atores para se ter uma grande cena!


MinQ: O advento das câmeras digitais, o próprio videocassete e as câmeras em VHS trouxeram a possibilidade de se fazer filmes a baixo custo. Como anda a qualidade dessas produções independentes?
Salles: Estão melhorando muito. Muitas vezes a criatividade supera as limitações técnicas. É o que acontece na produção independente nacional. As vezes, basta um ou dois atores, uma idéia criativa e pronto, temos uma grande cena. Prefiro mil vezes assistir a um filme de produção barata como O Monstro Legume do Espaço, a produções milionárias e pseudo-histórica como A Guerra de Canudos.

MinQ: Que acha do Rubens Ewald Filho como crítico de cinema?
Salles: Escreve muito bem. Eu era um ávido leitor de suas publicações. Só que ele é um cara que sempre teve rabo preso, pois trabalha para determinadas redes de TV e não se atreve a comentar mal sobre os filmes exibidos por esses meios de comunicações. Certa vez, há muito tempo, ele estava lançando um livro e eu fui a sua noite de autógrafos. É uma pessoa muita atenciosa e simpática.



O Rubens Ewald Filho sempre teve o rabo preso as Redes de TV!



MinQ: Como tem visto esse boom! Do cinema nacional, com várias produções em andamento e muitos prêmios sendo ganho?
Salles: Prêmios não servem para nada, a não ser aumentar o ego de quem o ganha. De qualquer forma, a coisa está menos ruim do que nos tempos do Collor, período que não haviam produções em andamento. Pena que a maioria dos filmes nacionais produzidos atualmente queiram seguir o “padrão-global-de-qualidade-politicamente-correta”, e isso nos deu filmes medonhos como Carlota Joaquina, O Que é Isso Companheiro, Pequeno Dicionário Amoroso, Guerra de Canudos, etc. Felizmente há exceções, como os citados anteriormente...



Prêmios não servem para nada, apenas para aumentar o ego de quem o ganha!


MinQ: Suas considerações finais.
Salles: Puxa cara, acho que já falei demais. Grande abraço aos seus leitores.

Nota: O José Salles é um cara super legal e muito atencioso. Nossos sinceros agradecimento pela entrevista e pela atenção em nos atender.

Um comentário:

Anônimo disse...

O Salles é DEZ mesmo!!!!!!