6/02/2009

ENTREVISTA: Luis Augusto


O baiano Luis Augusto é um daqueles caras super persistentes com seus objetivos. Batalhador incansável em prol das causas justas, descobriu a arte para levar adiante seus projetos. Através dos seus personagens deficientes, ele descobriu os quadrinhos para mostrar que é possível chegar a algum lugar e ao mesmo tempo, contribuir para uma visão mais justa para os problemas que existem no planeta. Começou sua carreira ainda menino ao lado de Ziraldo. Fez ilustrações em Nova Iorque e desenho animado em São Paulo. Criou em seguida o Fala Menino! Um Projeto que envolve quadrinhos com crianças excepcionais. Nessa excelente entrevista, ele nos fala mais sobre esses e outros assuntos interessantes. Seus livros do Fala Menino, estão sendo adotados por várias escolas, que os utilizam para ajudar na educação das crianças. Isso nos prova que as HQs podem contribuir para gerar interesse pela leitura, para difundir a história de uma nação ou até mesmo para auxiliar na formação de um vocabulário amplo. Afinal, os quadrinhos possuem tantas e tantas possibilidades a serem exploradas...

Por: Alex Sampaio

Quem é Luis Augusto?
Sou baiano, arquiteto, escritor, cartunista e educador. Um monte de coisa.

Como surgiu o desejo de trabalhar com desenhos?
Minha primeira experiência com desenhos foi no início de 1996, quando participei do clipe da Gal Costa e Caetano Veloso para a música do filme Tieta do Agreste.


Queremos um mundo diferente, mas ensinamos as crianças a serem iguais!


Como nasceram seus personagens especiais?
Surgiram da vontade de estabelecer um contato com a infância e da relação da criança com a diferença.

De que forma?
A partir da perspectiva da criança, você pode falar de tudo. Esquecemos que podemos aprender com elas Queremos um mundo diferente, mas ensinamos as crianças a serem iguais.

São vários personagens. Fale um pouco deles:
O Lucas tem quase 10 anos, é mudo e adora jogar bola e fazer amigos. A Carolina paquera o Lucas escancaradamente. Mirella é surda. O Rafael é cego e o Mateus é autista.

Você foi o primeiro desenhista brasileiro a lançar um livro protagonizado por crianças deficientes. Explica isso:
A publicação que conta a história sobre pequenos diferentes se chama Lucas e foi lançada para educadores amigos das crianças.


A partir da perspectiva da criança, você pode falar de tudo!


Quem apoiou o projeto?
O apoio veio do UNICEF e Novos Negócios, editado pela Bureau.

Outros livros virão?
Claro! Este é o primeiro de uma série que enfoca a deficiência como uma coisa que, logicamente não é desejada, mas que pode ser superada.


Meus quadrinhos enfocam a deficiência como uma coisa que, logicamente não é desejada, mas que pode ser superada!


Como você aborda isso nas histórias?
Se há momentos de melancolia nas historinhas, elas são sempre colocadas no tempo passado.
Suas HQs procuram mostrar as crianças diferentes de maneira bem igualitária. É sempre assim?
Procuro fugir do tom piegas e trato as crianças de maneira normal, que brincam, paqueram, fazem barulho como toda criança.

Como surgiu a iniciativa dos desenhos para TV?
Esse projeto começou em 2003 com o patrocínio da Lei Rouanet. A TV Cultura abraçou a idéia e colocou a nível nacional.

E a produção, como se deu?
A produção foi feita toda na Bahia. O roteiro é meu, baseado nas tiras que circularam ou circulam no nosso jornal A Tarde, de Salvador.

De que maneira você produziu os desenhos?
Tudo foi baseado aqui em Salvador. Fiz tudo através de story boards, desde os cenários a animação, nos estúdios da Olhar Filmes. A direção geral coube a Luis e Adriano Dias.


Tive o patrocínio da Lei Rouanet e A TV Cultura abraçou a idéia colocando meus desenhos animados a nível nacional!


O Ministério da Justiça criou um selo para classificar os desenhos para crianças. Que você acha disso?
Acredito que o que se produz hoje é mais consciente do que no passado. Tinha mais violência nos desenhos do Pepe Legal que hoje. A coisa é mais comercial hoje em dia. A industria do cigarro pagava para que Fred e Wilma fumasse. Hoje isso não existe.

Quantos episódios já foram produzidos?
Os onze primeiros já foram concluídos. Ao todo serão dezoito. Inclusive eles estão disponíveis no site do youtube.com.

As dublagens dos desenhos também foram feitas na Bahia?
Sim! Nós utilizamos vozes de crianças de verdade na dublagem.

E os quadrinhos pararam?
Continuou fazendo tiras. O contrato com os jornais exige isso.

Quando os quadrinhos apelam

Por: Tom*

Com direito a "happy-end" melodramático misturado a lágrimas e um último abraço em sua amada Lois Lane, desse modo concluíram a saga do super-herói mais bem elaborado das estórias em quadrinhos.
Super-Homem foi criado em 1938 por Jerry Siegel e Joe Shuster durante a Era de Ouro dos quadrinhos e de lá para cá pouca coisa se modificou, tanto no "design" do personagem (roupas, cores) ou na sua performance – e não poderia ter sido diferente : Super-Homem sempre foi perfeito.
E é por conhecermos sua trajetória, o jogo de cintura para acatar novos parceiros na luta contra o mal, seu desmedido amor por Metrópolis e o carinho por Lois Lane que ouso proferir : a edição em capa preta veiculada há vários anos atrás (originalmente publicada em sete partes nos EUA e compilada aqui no Brasil pela Abril Jovem numa edição especial única sob o título A MORTE DE SUPER-HOMEM*) é um fiasco !
Ou melhor : um eficiente golpe de publicidade cujo resultado foi um balde de água fria em milhões de aficionados pelo herói. Um nocaute, sem revanche.
Se puxassem pela imaginação (leia-se , criatividade) encontrariam métodos menos apelativos de chamar a atenção para o herói como ocorreu à reviravolta de Batman (envelhecido e sem a parceria de Rabin, morto em combate)* e o casamento do Fantasma* após um longo e cansativo noivado com Diana Palmer.
Se o objetivo era vender revistas haveria opções como :
a) Casar o Super com Lois Lane numa bela edição de luxo (já fizeram isso?);
b) Como ele não envelhece (ou envelhece pouco), trocar Lois Lane por outra gata – uma daquelas maravilhosas mutantes , por exemplo – já que Lois envelheceria;
c) Um filho do Super-Homem através de Lois Lane. Obviamente nesse caso, até poder-se-ia aceitar a morte do herói. O filho prosseguiria a saga do pai já que ninguém suporta a canastrona da Supermoça ou os debilóides Superboy* e Supercão.
Vamos agora aos "furos" da edição capenga :
1) Os sangramentos pelo corpo do Super-Homem : os seus cortes cicatrizam-se instantaneamente;
2) Se ele tivesse de morrer teria que ser vítima da tão badalada kriptonita – seu único ponto fraco;
3) A criação do praticamente indestrutível "Apocalipse" que assassina o herói : quem é? Qual o motivo de tanto ódio? De onde vem toda a sua força?
4) Os argumentos são banais : há um massacre inútil de heróis.
Agora, pra não dizer que estou exagerando, a capa é de excelente qualidade gráfica ainda que num formato maior ganhasse mais impacto (álbum, por exemplo, como se faz na Europa).
Por outro lado isso não é motivo para ficar preocupado. É claro, que depois disso você já deve ter esbarrado na banca com edições com os seguintes títulos : "O retorno de Super-Homem" ou "Super-Homem" ressuscita ". Kriptonita neles!
Notas :
* A Morte de Super-Homem (veiculada na última quinzena de novembro de 1993 pelo Abril Jovem S.A, argumento de Louise Simonson, desenhos de Jon Bogdanove e arte-final de Dennis Janke).
*Batman, O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, publicada em 1989 pela DC Comics.
*Fantasma , o espírito que anda (ou The Phantom), sugiro que assistam ao filme em que o herói é interpretado por um ator assumidamente gay, he, he.
*A respeito do Superboy faço aqui uma pequena restrição ao seriado Smallville interpretado pelo ator novato Tom Wellig (interpretando Clark na juventude) de quase um metro e noventa de altura e olhar doce : deveriam explorar mais o corpo do rapaz que só apareceu sem camisa em dois episódios.

* editor do Tom Zine, Poesias & Afins