2/06/2009

ENTREVISTA: Cedraz


Por: Alex Sampaio

O criador da Turma do Pipoca, o baiano Antonio Luiz Ramos Cedraz, mais conhecido por Cedraz, fala do início da sua carreira como escritor e desenhista, das suas novas criações, dos seus planos para o futuro, da importância dos fanzines como divulgador dos quadrinhos alternativos, da falta de investimentos dos editores nacionais e também da necessidade de se produzir trabalhos com qualidade, nessa excelente entrevista.

Madeinquad: Como Cedraz percebeu sua vocação para os desenhos?
Cedraz: Quando garoto, morando numa cidade do interior – Jacobina-BA – eu lia revistas da Ebal. Até aí não tinha ainda tentado desenhar. Porém, um dia um amigo estava desenhando e eu achei que também poderia fazer. Fui para casa e fiz um desenho do Tiradentes. Mostrei o desenho ao amigo e ele passou a me incentivar.


Madeinquad: Você participou de alguns cursos para aprimorar sua arte?
Cedraz: Sim. Fiz um curso por correspondência e tempos depois fiz vestibular para artes plásticas. Cursei a faculdade por dois anos, mas tive que abandonar por falta de tempo.


Madeinquad: Qual o seu estilo de desenho?
Cedraz: Infantil ou cômico.


Madeinquad: Que tem achado dos quadrinhos que circulam nas bancas?
Cedraz: Deixei de comprar as revistas de super-heróis. Os argumentos estão muito chatos. Os heróis não são mais tão heróis como deveriam ser. Ficou uma coisa sem lógica. As infantis continuam devendo novos lançamentos. As editoras deveriam investir mais no quadrinho brasileiro.


Madeinquad: Tem comprado revistas ultimamente?
Cedraz: Sim, embora bem poucas.


OS ARGUMENTOS DAS REVISTAS DE SUPER-HERÓIS ESTÃO MUITO CHATOS. FICOU UMA COISA SEM LÓGICA!


Madeinquad: Fale um pouco sobre a Turma do Pipoca:
Cedraz: A Turma do Pipoca foi um projeto que pensei que iria dar certo. A editora se mostrou muito interessada. Obrigou-me a produzir diversos números dizendo que a revista seria mensal. Por fim, só publicou um único número e ficou esperando que a publicação emplacasse. Faltou continuidade. Se eles queriam testar só com um número, por que me exigiram fazer cinco? Coisas de editor brasileiro...


Madeinquad: Qual sua opinião para a Turma do Pipoca não ter dado certo na Editora Sisal?
Cedraz: Confesso que não sei. Acho que a principal causa, foi a falta de periodicidade.


Madeinquad: E a Turma dos Guris?
Cedraz: Na verdade, a Turma dos Guris é a mesma Turma do Pipoca.


Madeinquad: Que tem feito ultimamente em termos de quadrinhos?
Cedraz: Diversas coisas. Estou elaborando cartilhas educativas e promocionais para empresas e escolas e estou preparando tiras para jornais com novos personagens. Criei uma série de historinhas com dois gêmeos e seus amigos. Se tudo correr bem, breve estarei divulgando os personagens. A criação é minha, os textos do Tom e os desenhos do Sidney.


Madeinquad: Por que o artista brasileiro tem sempre que abandonar os quadrinhos e partir para outras direções, a exemplo da publicidade?
Cedraz: Por falta de editores que queiram investir. Todos sabemos que no início as vendas de uma revista não dão lucros, mas se o trabalho for bom, com o decorrer do tempo os leitores passarão a se acostumar com a publicação e por certo o trabalho vinga. É aí que se necessita do investimento, do editor acreditar e incentivar.


Madeinquad: O que você acha da avalanche de publicações americanas que invadem nossas bancas atualmente?
Cedraz: Muito prejudicial. Infelizmente os editores e os leitores brasileiros preferem o que é de fora. Mas essa mentalidade também é culpa nossa, já que não sabemos boicotar porcarias que vêm de fora. Você já percebeu que o brasileiro está perdendo o amor por sua própria língua e cultura? por que Book? Fire Comics? Art News? Etc. etc. etc.

EDITOR E O ARTISTA TÊM QUE FAZER UM TRABALHO BEM PROFISSIONAL!

Madeinquad: Existe futuro para o artista brasileiro em nosso país, ou teremos sempre que bater às portas de editoras americanas?
Cedraz: Creio que existe sim. Não devemos e nem podemos abandonar a luta. O futuro está à nossa frente. Eu ainda tenho muito gás para dar.


Madeinquad: Que falta para os quadrinhos brasileiro difundirem mais pelo país e partirem para algo mais sério, ao contrário de publicações basicamente voltadas para o erotismo?
Cedraz: O editor e o autor acreditar e fazer um trabalho bem profissional.


OS FANZINES TÊM UMA FORÇA QUE MUITA GENTE NEM IMAGINA!


Madeinquad: E o artista brasileiro tem melhorado seu potencial criativo para exigir respeito dos editores?
Cedraz: Sempre tiveram. Agora que muitos estão trabalhando para estúdios Marvel-DC foi que aumentou a mídia a respeito. E isso é muito bom.


Madeinquad: Tem preferência por algum artista nacional?
Cedraz: Sim. Eu gosto muito do Emir Ribeiro. O Gustavo Machado, o Ziraldo, o Laerte, etc.


Madeinquad: Que acha dos fanzines como publicação alternativa?
Cedraz: Os fanzines têm uma força que muita gente nem imagina. Muitos artistas brasileiros são hoje conhecidos graças aos fanzines. Acho super importante essa força que os zines dão pra gente.


NÓS ARTISTAS, DEVEMOS COLOCAR NOSSO MATERIAL EM TODO VEÍCULO QUE FOR POSSÍVEL!


Madeinquad: Quais suas influências como artista?
Cedraz: No início, como eu morava em um lugar que via poucas publicações, tive como maior influência o Maurício de Sousa, o Igayara, o Isomar e os desenhistas de Hanna Barbera.


Madeinquad: Quais os planos de Cedraz para seus personagens?
Cedraz: Estou apostando nos Irmãos Gêmeos. Trata-se de uma turminha de garotos com cerca de um ano de idade, mas com pensamentos críticos e adultos. Fazem parte das histórias o João Vitor, um garoto calmo e observador; Marina, sua irmã, auoritária e dominadora; Tobias, um garotinho chorão que usa o seu choro para conseguir o que quer; Godofredo, um garoto gordo e preguiçoso; Eva, que é uma garota otimista e organizada e Willy, que tem idéias capitalistas.


ACHO QUE DEVERÍAMOS BOICOTAR AS PUBLICAÇÕES HORRÍVEIS QUE CIRCULAM POR AÍ!

Madeinquad: Mais novidades virão por aí?
Cedraz: Sim. Tem também a ABRA-KA-DA-BRA, que é a história de um anjinho que gosta de uma fada, que é amiga de uma bruxa, que ama um gnomo... mas essa turma vai ficar um pouco na "gaveta".


Madeinquad: Qual sua opinião sobre a perspectiva do quadrinho brasileiro para este ano?
Cedraz: Acho que ainda há muito caminho a seguir, mas devemos lutar e tentar colocar o nosso material em todo veículo possível. O Estúdio Cedraz está investindo no quadrinho educativo. No final do ano passado fizemos diversas revistinhas educativas e neste ano devemos continuar com esses projetos. Pretendemos também editar alguma coisa como editora independente em bancas.


Madeinquad: Suas considerações finais:
Cedraz: Acho que devemos produzir trabalhos com qualidade e boicotar algumas publicações horríveis que circulam por aí. Não sou contra o quadrinho estrangeiro, apenas não aprovo essa onda de que só o que presta é o que vem de fora.


Madeinquad: Nossos sinceros agradecimentos ao artista Cedraz pela atenção, paciência e brevidade em nos atender.

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