6/09/2010

Entrevista com Erica Awano

Por: Pedro Brandt

Quando começou o seu interesse por histórias em quadrinhos?

Eu costumava ler quadrinhos japoneses. Havia grande quantidade desses volumes pois era hábito entre os imigrantes japoneses trazer essas publicações para que os filhos mantivessem contato com a língua japonesa. Acho que comecei com esse interesse por volta dos sete ou oito anos e não conseguia ler as histórias. Isso só veio bem mais tarde quando aprendi a decifrar os ideogramas. Até lá, o que eu fazia era olhar as imagens e imaginar o que acontecia na trama.


Sempre pensou em se tornar desenhista de quadrinhos?

Sempre quis trabalhar com alguma coisa relacionada a desenhos e a literatura. Gostava muito de ler e herdei uma afinidade com desenhos que, me parece, existia desde meus avós.


Como começou a sua trajetória nos quadrinhos?

Por acaso havia essa febre em cima dos desenhos animados japoneses. Por conta disso, publicações específicas sobre quadrinhos e animações japonesas começaram a aparecer nas bancas. Eu escrevi uma carta para a revista Animax com uma ilustraçãozinha e, em dois dias, o editor chefe da revista, o Sérgio Peixoto, ligou para a minha casa após encontrar meu telefone na lista. Ele também era o presidente de um dos únicos clubes sobre mangás e animes em São Paulo e reunia todo o fim de semana não só jovens ávidos pelas últimas novidades em animação como também um grupo de desenhistas, então amadores, para trocarem experiências e dicas de desenho. A minha primeira aparição em banca foi na revista Megaman, baseada num jogo de videogame. Mas eu só assumi a idéia de fazer quadrinhos profissionalmente a partir da revista Street Fighter Zero, projeto que foi roteirizado e editado pelo Marcelo Cassaro, editor da então Dragão Brasil e futuro parceiro na Holy Avenger, que se tornou meu trabalho mais conhecido.


Qual a sua formação acadêmica?

Eu sou formada em Letras pela USP.


Saber desenhar e saber fazer quadrinhos são coisas diferentes. Como foi o seu aprendizado para fazer quadrinhos?

Eu não sei, tenho certeza que parte disso veio das minhas visitas ao acervo de mangás na casa da minha avó. O Marcelo Cassaro, roteirista da Holy Avenger, é um profissional premiado, apesar de nossas formações diferentes, ele cresceu lendo comics e eu mangás, eu posso dizer sem medo de errar que eu aprendi muita coisa a respeito de quadrinhos como um todo através dele.Muitas meninas não lêem quadrinhos porque as temáticas das HQs são, geralmente, masculinas.


Você acredita que isso justifica o número reduzido de meninas leitoras e, consequentemente, produzindo HQs?

Acredito que esse fato justifica grande parte da questão sim. Eu sou uma prova disso e consigo contar nos dedos das mãos quantos títulos de quadrinhos americanos já li. Mas acho que também tem o fato de não haver interesse em mostrar opções para esse público feminino. Eu vejo as propagandas dentro dos mangás e não vejo nenhuma que aproveite o perfil do público leitor, quero dizer, qual a vantagem de colocar um anúncio de um quadrinho cheio de tios bombados e tias peitudas num quadrinho para garotas? Não quero dizer que garotas não curtiram histórias de super heróis, mas eu não consigo ver como uma garota possa enxergar uma boa história só olhando para as capas dessas edições.


Você acredita que o mangá ajudou a trazer mais meninas para os quadrinhos?

Com certeza. Os mangás são produções altamente segmentadas, eles têm um público específico, não é como no ocidente on existe o infantil, juvenil e adulto. Há mangás para adolescentes de ambos os sexos, para jovens adultos, donas de casa, gays, empresários, esportistas, sobre tudo que é tipo de assunto e abordado segundo o interesse do público alvo. Também tem a vantagem de que não é preciso ler 60 anos de quadrinhos para saber o que está acontecendo na história. Quando um quadrinho japonês acaba, ele acaba.

Quem você diria que são as suas principais influências tanto no mangá quanto em outros tipos de quadrinhos?

Eu cresci lendo mangás, só li meu primeiro quadrinho americano na faculdade e depois de muita, muita relutância, a saber, foi o Sandman, do Neil Gaiman. Quanto ao meu gosto, eu gosto de histórias que falam sobre histórias, lendas, que misturam o folclore com eventos cotidianos. Não tem muitos títulos assim hoje em dia, mas eu costumava ler XXX Holic e Mushishi, os dois misturam aventuras fantásticas com elementos do folclore japonês. Sobre influências, não sei se existe alguma em especial, eu sou especialmente preguiçosa no que se refere a decifrar o estilo de outros artistas, acho que ao invés de gastar meu tempo tentando ser outra pessoa, é mais fácil tentar ser eu mesma.


Qual o seu conselho para as meninas que querem começar a fazer quadrinhos?

Bom, se é com finalidade recreativa, fanzines, eles são um excelente exercício. Eles proporcionam não só a parte do fazer como também a parte do sujeitar-se ao julgamento dos outros. Se o interesse é profissional, realmente atuar na área, seria bastante salutar procurar a opinião de um profissional. Eu não sou uma pessoa que levanta a bandeira do "leia quadrinhos", acho que não dá pra forçar alguém a ler, ou a gostar de ler, acho que a única coisa que eu acho importante no que se refere ao assunto é que, mesmo que você nunca leia um quadrinho na sua vida, isso não quer dizer que sejam ruins ou inferiores. Claro, tem muita coisa que poderia muito bem nunca ter sido publicada, mas tem muitos livros nessas condições também, então, mantenha sempre a mente aberta. Os quadrinhos podem ser uma porta de entrada para um mundo muito maior.


Você está trabalhando atualmente na série Alice. O que está achando a experiência?

Eu trabalho para uma agenciadora chamada Glasshouse Graphics. Um dia eu recebi uma proposta através dela para fazer um teste para Alice e embora eu achasse que não seria escolhida, já que a adaptação é fiel ao livro, portanto não deveria estar ligada a mangá e eu só trabalho nesse estilo, mas acabei sendo chamada. Desenhar Alice é muito divertido, pelo menos eu acho. Tem muita coisa ali que eu nunca desenhei antes e outras tantas que eu gosto de desenhar. Pra mim, fazer esse quadrinho é um presente! Os livros são fantásticos, a adaptação feita pelo casal Leah Moore e John Reppion é muito bem feita e cheia de detalhes engraçados nem sempre ligados ao quadrinho em si.


Qual tem sido o feedback para o seu trabalho?

Até onde eu sei, a repercussão sobre Alice está sendo boa lá fora. Não sei o que está sendo dito por aqui já que é uma publicação estrangeira, mas de vez em quando alguém me manda uma mensagem me dando os parabéns e para dizer que esperam ansiosos pela publicação do título no Brasil.


E quais serão os seus próximos trabalhos?

Ah, isso só vou saber quando terminar Alice.

6/07/2010

HQs políticas do Irã ganham versão em português




Por: Fernanda Mena

Em Teerã, uma história em quadrinhos de temática política que virou sensação na internet, ganha versão em português.
"O Paraíso de Zahra" conta a história de uma mãe em busca do filho, desaparecido após um protesto contra as eleições de junho de 2009 que mantiveram o presidente Mahmoud Ahmadinejad no poder.
A graphic novel é criada em tempo real, como uma novela na internet, e sua autoria é mantida sob anonimato. Isso porque o roteirista iraniano, identificado apenas como Amir, e o desenhista árabe, Khalil, têm medo de que seus familiares no Irã possam sofrer represálias do governo.
O enredo de "O Paraíso de Zahra" é inspirado na história da estudante Neda Soltan, morta com um tiro no peito durante um desses protestos, em junho de 2009.
A cena foi toda filmada e correu o mundo via YouTube em poucas horas para depois chegar aos jornais e à TV como símbolo dos abusos do atual regime iraniano.
A instantaneidade com que a internet revelou ao mundo o que os aiatolás tentam esconder deu a Amir e Khalil a ideia de criar uma história em quadrinhos que usasse o mesmo recurso para o mesmo fim.
Quando for finalizada, em agosto de 2011, a história ganhará versão em papel. No Brasil, o livro será publicado pela editora Leya.

6/01/2010

Humor sutil


Por: Diogo Bercito

Enquanto brasileiros como Ivan Reis e Eddy Barrows brilham no mercado norte-americano desenhando para a DC Comics, há talentos nacionais voltados para o outro lado do Atlântico.

É o caso de Ricardo Manhães, que já publicou sua dezena de gibis no mercado franco-belga em que HQ se chama BD, do francês "bande dessinée".

O artista que hoje mora em Florianópolis, apaixonou-se por quadrinhos aos oito anos de idade, quando passou uma temporada na França acompanhando seus pais que estudaram por um período no país.

Os traços simples e o tom humorístico dos gibis europeus, famosos por meio dos quadrinhos do Tintin, ganharam o rapaz, que adotou o estilo para seu trabalho.

Ricardo Manhães, desenha hoje, entre outros projetos, o Gothic Girl, que, com humor sutil, faz troça dos adolescentes góticos. Acima, alguns de seus trabalhos.