2/13/2009

Em busca do lucro perdido


Por: Alex Sampaio*

Com a crescente dilapidação dos quadrinhos, uma das grandes consequências, entre tantas outras, nefastas, está na descaracterização dos gibis de super-heróis clássicos, que têm agora suas estruturas originais cada vez mais pulverizadas pela nova estética de video clip. Se antes, quando a HQ do Tio Sam era respeitada e havia o interesse do leitor em acompanhar as histórias, as coisas já não andavam para as editoras, imagine nos dias atuais, com tantos suplícios para se organizar uma cronologia perdida no tempo, e a crescente cobrança de vendas?
Acontece, que os estúdios buscam hoje um mercado mais imediato, semelhante a indústria cinematográfica, gerida com braço forte e com vasto apelo comercial, com objetivo de lucro certo e rápido. Com esse pensamento, desapareceram os estilos, as peculiaridades em relação a estrutura harmoniosa de cada personagem, o sentido de linha de cada herói, tudo isso substituído pela "tesoura giratória" dos estúdios que regem a circulação das revistas. Isso, independente de ser uma obra dita superior, como de um Stan Lee, ou da mais pura mixórdia de ocasião, os procedimentos dos executivos são os mesmos em busca do lucro perdido.
Com gestos semelhantes a uma automação bancária, as novas idéias giram em torno de ação do início ao fim, com muita imagem repleta de cores vivas, cortes rapidíssimos, feitos sem dúvida, para atender um mercado de gosto muito duvidoso, como o americano, que não suportam histórias longas e que tem um público analfabeto em linguagem de quadrinhos dos modelos atuais.
O modelo de super-herói que eles nos impõem hoje, fica restrito e nada pode se exigir atualmente. Seria interessante que se ampliasse, por assim dizer, novas estéticas para atualizar algumas imagens, mas que isso não se tornasse uma paranóia, provocando uma massificação, que poderia se chamar de "metástase" capaz de levar os quadrinhos a anularem suas origens e suas peculiaridades de reacender o gosto pela leitura.
É assustador constatarmos hoje, a mediocridade das HQs, quando comparamos com o que já tivemos no passado, estas sempre bem feitas, com criatividade, senso de oportunidade, condicionada, dentro do estilo noir de cada personagem do momento. Pobre dos que consomem tamanhas obras fajutas, levando ao cérebro um forte fator de embrutecimento e ignorância, onde a contemporaneidade " escarfunda " na lama pela indisponibilidade de novos conceitos, idéias e ousadia em abdicar do que propõe uma urgência financeira.
Com a decadência dos estúdios do Tio Sam, que possuiam estilo, onde poderiam até ser chamados de grife, Marvel e DC afundaram em dívidas, com descaracterização, ficando o negócio de quadrinhos gerido de forma imatura, zombando da inteligência do público consumidor. Executivos que de nada entendiam de HQ, passaram a determinar quantos títulos deveriam circular, quantos heróis seriam criados e lançados, enfim, quantos musculosos e peitudas deveriam sair por ano. Uma planilha semelhante à linha de montagem de uma fábrica e o que se estava em jogo não parecia nada diferente da salsicha que acompanha o hot-dog do fast-food. Um verdadeiro lixo que se derrama nas páginas controladas por essa indústria do chamado herói de ocasião. O mais triste é ver o mercado brasileiro totalmente aberto ao consumo, dominado na distribuição, restando apenas a poucas tiragens abnegadas que cedem espaço a obras de outras editoras de menor porte.
Os heróis são montados dentro de um mesmo padrão, dentro de uma mesma linguagem, como já frisamos, os quadrinhos seguem assim. Porque estão em mãos do mesmo controle, que apenas entende o ofício de ganhar dinheiro, money, lucro, de preferência rápido. Antigamente não era a mesma coisa, onde havia uma temática lógica, havia uma elaboração, feita por pessoas que sabiam saborear, existia cadência de enredo, existia prazer em fazer e prazer em ler, antes de tudo, havia criatividade.
O prazer de ler super-herói acabou. Basta de aborrecimentos, de ter que suportar neuroses de roteiristas, que se apresentam sempre como novos talentos e nunca imitadores. Esses malditos gênios da atualidade, que nos atormentam com tantas aberrações, deveriam sucumbir junto com suas criações utópicas. Deve-se concluir então, que os quadrinhos de hoje são muito piores que os de antigamente??? Nunca!!! Os de antigamente nunca foram ruins!!!... O leitor de hoje virou um mero consumidor. Tristes tempos!!!!!!


*Alex Sampaio é colecionador de gibis e editor do fanzine Made in Quadrinhos

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