2/13/2009

ENTREVISTA: José Salles


Por: Alex Sampaio

Editor do extinto e polêmico zine Os Mardito, José Salles é um estudioso confesso na arte cinematográfica. Seus comentários sobre cinema são de uma profundidade espantosa, na medida em que abrange principalmente a esfera underground. Nesta excelente entrevista ao nosso blog, ele fala da sua arte de escrever, das suas quadrinizações, do seu amor pelo cinema nacional dos anos 60/70, dentre outras revelações. Confiram o bate-papo:

MinQ: É bom que nossos leitores conheçam um pouco sobre o José Salles:
Salles: Mais um egocêntrico...

MinQ: Os Mardito, seu zine que se tornou polêmico pelo conteúdo forte, fez com que você ficasse bastante conhecido no meio fanzinístico. Por que ele deixou de ser publicado?
Salles: Os Mardito terminou principalmente devido a uma viagem ao exterior, mas já haviam planos para “matá-lo” antes mesmo de viajar...enfim, terminou, mas não terminaram meus projetos em fanzines.


O fanzine é o combustível da alma e nossa liberdade de expressão incontida!


MinQ: Com a parada do zine Os Mardito, seus quadrinhos também foram afetados. Quando veremos novas hqs suas?
Salles: Há planos para novas hqs, sim. O Wace ( Waldivar Cesar ) fez parceria comigo em dois zines de contos e está trabalhando na quadrinização do Anjo do Mal.

MinQ: Qual sua opinião sobre os fanzines como meio de divulgação underground?
Salles: Ah, fanzine é o combustível da alma. Liberdade de expressão incontida, inesgotável, inestimável...

MinQ: Existe uma seguimentação muito forte entre os fanzines. Isso ajuda a divulgar determinada arte ou seria melhor uma globalização das publicações?
Salles: Acho que o fanzine tem sua especialidade: circulação off-mídia, fora da mídia. Muitas vezes o fanzine acaba virando revista e perde sua força, vira um “caros amigos” da vida.

MinQ: Quais quadrinhos tem lido ultimamente?
Salles: Ralf Konig e Lourenço Mutarelli.

MinQ: Existe futuro para a HQ nacional ou teremos sempre que conviver com o que vem de fora?
Salles: Claro que existe. Veja aí, temos o sensacional Emir Ribeiro, que ainda não tem o devido respeito da mídia – foda-se a mídia – mas que tem o nosso respeito, o Edgar Franco, o Renato Coelho, enfim, são tantos que não vou conseguir citar todos. E espero conviver com as coisas boas que vem de fora também, tipo Ralf Konig e Robert Crumb.

MinQ: Seus textos sempre foram o seu forte. Novas quadrinizações deles virão por aí?
Salles: Sim. Tenho muitos planos a respeito. Tenho mantido contatos com o Francis Brandão e deve vir mais coisa por aí.

MinQ: Uma das grandes quadrinizações sua foi a hq Pé de Moleque, com arte do Francis Brandão. De onde vêm suas inspirações para escrever?
Salles: Minha inspiração para escrever vem da vida, da minha e dos outros, dos jornais, das notícias. Charles Buckowisk certa vez escreveu que jamais faltará assunto e/ou inspiração para se escrever. Concordo com o velho bebum!



O Cinema Nacional Entrou no Obscurantismo no Governo Collor!



MinQ: Seus comentários sobre filmes são bem aceitos pelos leitores. Qual sua técnica de avaliação como crítico?
Salles: Desde criança fazia um pequeno arquivo comentando os filmes a que assistia. O espírito dos meus comentários é mais ou menos aquilo mesmo que falo, de maneira simples, com as impressões que tive do filme. Quase não tenho livros sobre cinema em casa, por isso, alguns equívocos aparecem. Não tem essa de ‘entendido’ no assunto. Assisti a milhares de filmes. Adoro cinema e resolvi escrever a respeito descompromissadamente.

MinQ: Qual sua opinião sobre o cinema nacional?
Salles: Adoro assistir a filmes brasileiros, principalmente as produções dos anos 60/70. À partir dos anos 80, a coisa começou a naufragar, até chegar ao obscurantismo total com o governo Collor. De uns anos para cá, a coisa voltou a andar e os filmes voltaram a ser produzidos. Mas bem poucos – ou quase nada – que empolgasse o público. Andaram aparecendo alguns bons, como Um Céu de Estrelas, Os Matadores, Central do Brasil e Boleiros.

MinQ: Como tem sido sua experiência como diretor e roteirísta de filmes?
Salles: Muito divertida. Me dedico muito a isso.



O Cinema de Curta Metragem no Brasil tem Produções de Muito boa Qualidade!



MinQ: Que avaliação se faz a sua participação na comédia Fatman & Robada de 1977?
Salles: Eu não participei desse filme, embora conheça o diretor/roteirista Rogério Balbino e muita gente envolvida na produção. É um ótimo filme. A grande suspresa do cinema independente do ano passado.

MinQ: Como anda o mundo do cinema de curta metragem do Brasil?
Salles: Melhorando. Além da Canibal Produções, do Souza e Baiestorf, há ainda em Chapecó, a Extreme Produções, do Boni Coveiro e do Zambiasi, que já produziram curtas e longas em VHS. Há também o Cleiner Miceno, de Sorocaba, da Banda Joe Coyote, que vem produzindo curtas de muito boa qualidade. Há mais gente, que me desculpem aqueles que não foram citados.

MinQ: Percebe-se que o mestre dos curtas brasileiros é o Petter Baiestorf. Quais outros podemos destacar?
Salles: O Petter Baiestorf é o mestre mesmo. É o precursor de uma nova estética. Em um tempo em que todos lamentavam o fechamento da Embrafilme, ele juntou os amigos, pegou uma VHS e foi fazendo seus filmes. E não posso esquecer de citar outro precursor: O Cesar Souza, que fez vários curtas em super-8 e hoje é o parceiro indispensável de Baiestorf.



Com uma idéia criativa, basta um ou dois atores para se ter uma grande cena!


MinQ: O advento das câmeras digitais, o próprio videocassete e as câmeras em VHS trouxeram a possibilidade de se fazer filmes a baixo custo. Como anda a qualidade dessas produções independentes?
Salles: Estão melhorando muito. Muitas vezes a criatividade supera as limitações técnicas. É o que acontece na produção independente nacional. As vezes, basta um ou dois atores, uma idéia criativa e pronto, temos uma grande cena. Prefiro mil vezes assistir a um filme de produção barata como O Monstro Legume do Espaço, a produções milionárias e pseudo-histórica como A Guerra de Canudos.

MinQ: Que acha do Rubens Ewald Filho como crítico de cinema?
Salles: Escreve muito bem. Eu era um ávido leitor de suas publicações. Só que ele é um cara que sempre teve rabo preso, pois trabalha para determinadas redes de TV e não se atreve a comentar mal sobre os filmes exibidos por esses meios de comunicações. Certa vez, há muito tempo, ele estava lançando um livro e eu fui a sua noite de autógrafos. É uma pessoa muita atenciosa e simpática.



O Rubens Ewald Filho sempre teve o rabo preso as Redes de TV!



MinQ: Como tem visto esse boom! Do cinema nacional, com várias produções em andamento e muitos prêmios sendo ganho?
Salles: Prêmios não servem para nada, a não ser aumentar o ego de quem o ganha. De qualquer forma, a coisa está menos ruim do que nos tempos do Collor, período que não haviam produções em andamento. Pena que a maioria dos filmes nacionais produzidos atualmente queiram seguir o “padrão-global-de-qualidade-politicamente-correta”, e isso nos deu filmes medonhos como Carlota Joaquina, O Que é Isso Companheiro, Pequeno Dicionário Amoroso, Guerra de Canudos, etc. Felizmente há exceções, como os citados anteriormente...



Prêmios não servem para nada, apenas para aumentar o ego de quem o ganha!


MinQ: Suas considerações finais.
Salles: Puxa cara, acho que já falei demais. Grande abraço aos seus leitores.

Nota: O José Salles é um cara super legal e muito atencioso. Nossos sinceros agradecimento pela entrevista e pela atenção em nos atender.

Em busca do lucro perdido


Por: Alex Sampaio*

Com a crescente dilapidação dos quadrinhos, uma das grandes consequências, entre tantas outras, nefastas, está na descaracterização dos gibis de super-heróis clássicos, que têm agora suas estruturas originais cada vez mais pulverizadas pela nova estética de video clip. Se antes, quando a HQ do Tio Sam era respeitada e havia o interesse do leitor em acompanhar as histórias, as coisas já não andavam para as editoras, imagine nos dias atuais, com tantos suplícios para se organizar uma cronologia perdida no tempo, e a crescente cobrança de vendas?
Acontece, que os estúdios buscam hoje um mercado mais imediato, semelhante a indústria cinematográfica, gerida com braço forte e com vasto apelo comercial, com objetivo de lucro certo e rápido. Com esse pensamento, desapareceram os estilos, as peculiaridades em relação a estrutura harmoniosa de cada personagem, o sentido de linha de cada herói, tudo isso substituído pela "tesoura giratória" dos estúdios que regem a circulação das revistas. Isso, independente de ser uma obra dita superior, como de um Stan Lee, ou da mais pura mixórdia de ocasião, os procedimentos dos executivos são os mesmos em busca do lucro perdido.
Com gestos semelhantes a uma automação bancária, as novas idéias giram em torno de ação do início ao fim, com muita imagem repleta de cores vivas, cortes rapidíssimos, feitos sem dúvida, para atender um mercado de gosto muito duvidoso, como o americano, que não suportam histórias longas e que tem um público analfabeto em linguagem de quadrinhos dos modelos atuais.
O modelo de super-herói que eles nos impõem hoje, fica restrito e nada pode se exigir atualmente. Seria interessante que se ampliasse, por assim dizer, novas estéticas para atualizar algumas imagens, mas que isso não se tornasse uma paranóia, provocando uma massificação, que poderia se chamar de "metástase" capaz de levar os quadrinhos a anularem suas origens e suas peculiaridades de reacender o gosto pela leitura.
É assustador constatarmos hoje, a mediocridade das HQs, quando comparamos com o que já tivemos no passado, estas sempre bem feitas, com criatividade, senso de oportunidade, condicionada, dentro do estilo noir de cada personagem do momento. Pobre dos que consomem tamanhas obras fajutas, levando ao cérebro um forte fator de embrutecimento e ignorância, onde a contemporaneidade " escarfunda " na lama pela indisponibilidade de novos conceitos, idéias e ousadia em abdicar do que propõe uma urgência financeira.
Com a decadência dos estúdios do Tio Sam, que possuiam estilo, onde poderiam até ser chamados de grife, Marvel e DC afundaram em dívidas, com descaracterização, ficando o negócio de quadrinhos gerido de forma imatura, zombando da inteligência do público consumidor. Executivos que de nada entendiam de HQ, passaram a determinar quantos títulos deveriam circular, quantos heróis seriam criados e lançados, enfim, quantos musculosos e peitudas deveriam sair por ano. Uma planilha semelhante à linha de montagem de uma fábrica e o que se estava em jogo não parecia nada diferente da salsicha que acompanha o hot-dog do fast-food. Um verdadeiro lixo que se derrama nas páginas controladas por essa indústria do chamado herói de ocasião. O mais triste é ver o mercado brasileiro totalmente aberto ao consumo, dominado na distribuição, restando apenas a poucas tiragens abnegadas que cedem espaço a obras de outras editoras de menor porte.
Os heróis são montados dentro de um mesmo padrão, dentro de uma mesma linguagem, como já frisamos, os quadrinhos seguem assim. Porque estão em mãos do mesmo controle, que apenas entende o ofício de ganhar dinheiro, money, lucro, de preferência rápido. Antigamente não era a mesma coisa, onde havia uma temática lógica, havia uma elaboração, feita por pessoas que sabiam saborear, existia cadência de enredo, existia prazer em fazer e prazer em ler, antes de tudo, havia criatividade.
O prazer de ler super-herói acabou. Basta de aborrecimentos, de ter que suportar neuroses de roteiristas, que se apresentam sempre como novos talentos e nunca imitadores. Esses malditos gênios da atualidade, que nos atormentam com tantas aberrações, deveriam sucumbir junto com suas criações utópicas. Deve-se concluir então, que os quadrinhos de hoje são muito piores que os de antigamente??? Nunca!!! Os de antigamente nunca foram ruins!!!... O leitor de hoje virou um mero consumidor. Tristes tempos!!!!!!


*Alex Sampaio é colecionador de gibis e editor do fanzine Made in Quadrinhos

2/12/2009

ENTREVISTA: Dom Cabral

Dom Cabral é um daqueles artistas persistentes e que busca sempre um ideal. Criador dos personagens Crutsana, Crustacius e toda turma dos Defensores da Natureza, Cabral possui um talento invejável. Sua página na Internet é super bem feita e através dela, suas criações fluem e chegam ao mundo, mostrando a qualidade dos seus traços e das suas idéias. Nessa excelente entrevista ao nosso blog, ele nos conta um pouco de como tudo começou, seus planos e sobre suas afinidades com os quadrinhos. Confiram o bate papo:

Por: Alex Sampaio

Quem é Dom Cabral?
Nasci em Blumenau, SC. Há 32 anos trabalho como desenhista, minha especialização é Desenho Têxtil, profissão que segui na maior parte de minha carreira, porém hoje moro em Fortaleza.Trabalhei em empresas do ramo de estampas, por exemplo, Artex, Hering, Marisol, entre outras. Como artista plástico fui sócio-fundador de 2 associações, Bluap em Blumenau, e Ajap em Jaraguá do Sul. Mas agora me dedico ao projeto de vida (sonho) que é fazer a Crutsana viver para sempre.


Como surgiu o interesse pelos desenhos e conseqüentemente pelos quadrinhos?
Sou do tempo que se trocava revista na porta do cinema. Meu pai para dar inicio a minha coleção comprou uma série de revista, entre elas, Mickey, Pato Donald, e a partir daí, começou minha paixão pelos quadrinhos, principalmente Disney.


Que tem lido em termos de HQ ultimamente?
Muitos fanzines, feito principalmente, no Ceará, ou aqueles que recebo via correio. Quero salientar o Manicomics, muito bom por sua diversificação e qualidade. Também o Bone, criado por Jeff Smith. Mas não deixo minha paixão pela Disney, em especial, Mickey.


Fale um pouco sobre Crutsana, Crustacius e a Turma dos Defensores da Natureza:
Tudo começou no sonho de fazer um desenho animado com meu mestre e amigo, Roberto Sombrio. Trabalhamos durante anos, juntos, na Artex. Ele, pesquisou as lendas brasileiras e eu fui busca algo diferente, fui observando que os ratos e os patos, já haviam sido aproveitados com o melhor. Hanna-Barbera já havia feito todos os outros animais e, em minha opinião, Mauricio de Souza criou as melhores crianças. Somente restou o fundo do mar, daí então fiz pesquisa em enciclopédias e encontrei um ser diferente, era o Carangueijo-Eremita (Ermitão), comecei então a desenhar procurando simplificar os traços. Daí surgiu Crustacius e Crutsana em 1974.


Hanna Barbera fez todos os animais, Mauricio de Sousa criou as crianças e só me restou o fundo do mar. Daí surgiram Crustacius e Crutsana em 1974!


Sua identificação com o tema das suas HQs vem de alguma militância ecológica?
Não, de jeito nenhum. Bem, minha maior preocupação veio, em torno de 20 anos atrás, quando em minha cidade natal comecei a notar que o rio que eu pescava, com amigos e família, estava mudando de cor, daí veio essa preocupação com o meio-ambiente que desde aquela época só fez aumentar.


Como tem sido a aceitação dos leitores aos seus personagens?
Impressionante. Creio que as crianças se identificam bastante com o fato de meus personagens se assemelharem a pequeninos fofinhos, em resumos, crianças também. Sempre após fazer minha apresentação sinto que cada vez mais as crianças se apegam a eles, até por que recebo muitos e-mails e sou abordado pelas crianças nos colégios me perguntando sobre os personagens. Além disso, tenho a felicidade de ouvir as crianças dizendo para mim após a Crutsana se apresentar que querem ser defensores da natureza, que é uma espécie de associação que pretendo criar no futuro estando muito próxima de um Clube, seria o Clube da Crutsana e os Defensores da Natureza.

Você também ministra palestras. O que aborda basicamente nesses encontros e como é a receptividade da platéia?
Bem, na verdade não são palestras, se parecem mais com apresentações. Essa apresentação, atualmente, conta uma história onde o título é Lixo no Lixo, ela é contada na forma de desenho animado, e narrativa de um Contador de Histórias, no caso eu. Dentro dessa história é contado sobre Reciclagem, a importância de se colocar o lixo no lixo e sempre se preocupando em separar adequadamente cada tipo de resíduo. A receptividade das criança chega a ser emocionamente, já que ela pedem tanto para se repetir a apresentação, e tenho notado que sempre tende a aumentar. Outro fator que indica tal receptividade é o fato de receber tantas ligações de escolas e profissionais que lidam com educação infantil sempre pedindo meu comparecimento, seja para conversar, como também, para marcar uma apresentação. Outro fator que mostra a receptividade é que sempre ao término da apresentação ofereço a revista para venda, mas de alguns meses para cá, nem chego a oferecer, as crianças já me abordam na procura de uma nova revista.


Como todo entrevistador de artista nacional, uma pergunta não pode faltar: Você já procurou alguma editora para mostrar seus trabalhos?
Não, não fui. Porém está em andamento um projeto de lançamento junto uma editora local em Fortaleza para o lançamento de 01 livro infantil, baseado na apresentação é feita nas escolas. Porém, o leque está se abrindo e estamos nos preparando para ofertas de editoras que queiram entrar como patrocinadoras de nossa revista infantil, jornal e novas apresentações. Também está sendo uma revista com alto padrão de qualidade, onde seu objetivo principal é o mercado americano e europeu. Seria uma Revista em Quadrinhos, dividida em 3 partes, sendo que as duas primeiras já estão prontas, este trabalho é uma parceria entre eu e Daniel Brandão Estúdio, uma empresa do ramo local de Fortaleza.


Sua revistinha Crutsana tem um perfil direcionado ao público infantil. De fato a HQ brasileira é mais forte junto a esse segmento?
Acredito que sim, afinal, Mauricio de Souza, Turma do Xaxado (Cedraz - BA) e a própria Disney, são o mercado principal do Brasil. Mas eu creio que esse cenário está mudando, novos quadrinhos aparecem a cada dia e eu vejo eles, não digo tomando, mas reinvidicando um espaço que a muito tempo não lhe é cedido.


O que falta para o quadrinho nacional difundir mais pelo país?

Projetos mais sólidos, e que demonstrem características definidas. Uma personalidade própria. E daí, cada um partir para buscar seu espaço no mercado, como estou fazendo atualmente, e com sucesso.


Existe futuro para o artista brasileiro em nosso país, ou teremos sempre que bater às portas do mercado americano?

Existe sim. Como disse na pergunta anterior, é necessária uma responsabilidade e que o profissional abrace a idéia como se ela já fosse dar certo, afinal, a personalidade e a maneira como você apresenta seu produto é essencial para que o público, cito investidores e consumidores, acredite também.


O futuro do artista brasileiro depende de sua responsabilidade e de abraçar a idéia acreditando que vai dar certo!


De onde vêm suas inspirações para seus roteiros?
O cotidiano. Existe exemplo maior para se aplicar nossa criatividade do que simplesmente olhando para o mundo? É a base do conhecimento, a observação e busca concretizar isso de todas as formas possível, eu uso minha arte dos quadrinhos.


A Internet é realmente uma alternativa de mercado para os artistas de HQ?
Bem, antigamente quando se trabalhava com o não-local era um processo lento e que as vezes gerava ruídos de comunicação, afinal, eram cartas e telefonemas, creio que a internet acelerou esse processo e tornou o mesmo bem mais eficiente, então na verdade o mercado não mudou, apenas se tornou mais rápido, mas ainda há demanda para nossos profissionais, e ao mesmo tempo, se a demanda aumenta, a quantidade de profissionais também aumenta, em resumo, está praticamente no mesmo nível de concorrência.


Como anda a audiência do seu site na Rede?
Depois que comecei a fazer as apresentações, o website da Crutsana começou a ser mais visitado, porém ele não é a ferramenta principal que está divulgando meu trabalho. Recebi e-mails de propostas, mas em números, não se compara com o contato pessoal. E isso somente aconteceu depois que comecei a fazer as apresentações, por que antes, era como um papel no chão, algumas pessoas visitavam, mas marca alguma ficava. Hoje já posso dizer que meu site é visitado com certa freqüência, por isso aviso, entrem mais, em breve faremos uma revista on-line, novos jogos e Loja On-Line, mandem e-mails que estamos organizando tudo.


Há espaço para outros artistas na Crutsana?
Sim. Hoje conto com a colaboração de Ronaldo Mendes, um desenhista, que faz os quadrinhos para o projeto da Crutsana, o Everton que começou a fazer agora as animações da Crutsana. Mas não pode parar por aí, por isso estamos trabalhando no lançamento do Jornal e em concretizar a periodicidade da Revista da Crutsana, tornando-a mensal. E posso dizer com plena certeza, é difícil encontrar roteiristas dispostos a trabalhar nesse nicho de mercado, para esse público, que acredito ser uma potencialidade.


Que tem feito ultimamente em termos de quadrinhos?
Bem, sem querer ser exclusivo. Crutsana e os Defensores da Natureza é a nova onda. J Brincadeira, tenho me dedicado plenamente a esse projeto, afinal, é um sonho que quero realizar, é um projeto de vida.


Quais seus planos para o futuro com seus personagens?
Formar uma Geração Crutsana. E como projeto a longo prazo, tenho o plano de concretizar um Parque Temático da Crutsana, ecologicamente correto e sempre buscando essa formação.


Que acha dos fanzines como publicação alternativa?
Comecei apresentando meu trabalho fazendo o Zine Quadrimix, notando uma receptividade positiva e abrangente, resolvi partir para uma revista independente, aproveitando sempre o padrão e os moldes do zine. Então pode-se dizer que o Fanzine é um caminho para tornar seu trabalho algo conhecido.


Se você tiver um sonho e realmente acredita nele, largue tudo e faça acontecer!


Como anda a qualidade dos quadrinhos brasileiros?
Se formos falar dos Zines, tem alguns que quero destacar: Manicomics, Irmãos Gabriel e Ba. Em Recife conheci artistas ótimos.


Suas considerações finais:
Como profissional quero deixar uma mensagem para meus colegas e futuros colegas que ainda estão adentrando nesse mercado de apaixonados. Durante 30 anos trabalhei como desenhista e sempre tive meu sonho em paralelo de tornar minha criação (Crutsana) algo real e capaz de andar sozinha um dia. Quando tomei a decisão de que realmente devia me dedicar integralmente a esse projeto, ele deu certo, e continuará dando, pois acredito que a mensagem dele seja forte o suficiente para agradar e cativar o maior numero possível de fãs. Então encerro, citando que, se você tiver um sonho e realmente acredita nele, largue tudo e faça acontecer.


Nossos sinceros agradecimentos ao artista Dom Cabral por nos conceder esta excelente entrevista.

2/09/2009

HQs migram do papel para a Internet

O site hqnado.com traz histórias em quadrinhos, recheados de super-heróis e mangás, 100% nacionais.

Por: Fabio Ramos*

Um novo espaço para a veiculação das histórias em quadrinhos (HQs), a internet, foi o tema da dissertação de mestrado do pesquisador Edgar Silveira Franco, do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defendida no último dia 27. Para o pesquisador, o uso da internet apresenta muitas vantagens para as HQs - mas ele reconhece que no sistema digital, o produto passa a ser outro: não se trata mais da história em quadrinhos, mas sim do que ele denomina de HQtrônica.

A pesquisa de Franco é uma das primeiras da área, inovadora no mundo todo. Segundo ele, que visitou mais de 300 sites de HQs de todos os estilos de vários países, as HQs digitais brasileiras estão no mesmo nível daquelas produzidas na Europa, tanto em termos de conteúdo como no aspecto tecnológico. Já as produzidas nos Estados Unidos são apontadas por ele como mais ricas em efeitos especiais, mas trazem menos conteúdo.

O novo mestre é quadrinhista desde os 15 anos e arquiteto. Ao descobrir o trabalho de HQs na internet, resolveu se dedicar a esse novo universo, que ele próprio considera um misto de cinema, história em quadrinhos, arte, literatura e RPG.

Franco aponta, como principais vantagens da transposição da HQ do papel para a rede internet, a redução dos custos de impressão e distribuição do produto; a possibilidade de utilizar cores à vontade - também sem a preocupação de reduzir custos ligados à impressão, o que é e sempre foi uma questão importante para quem produz histórias em quadrinhos - e a possibilidade de se introduzir o elemento som à história, principalmente em substituição às onomatopéias (figura de linguagem que representa sons - como os Pow! ou Smack!, bastante utilizados nas HQs).

Prêmio Menção Honrosa

A forma de lidar com o tempo é outro aspecto importante. Franco compara as HQs tradicionais, o cinema e as HQtrônicas. Nas tradicionais, o desenho e a escrita estão prontos e o tempo de leitura é determinado pelo leitor. No cinema, a linearidade do tempo é determinada pelo diretor/autor. Na HQtrônica, o autor pode determinar a linearidade do tempo de acordo com o seu interesse. Neste caso, o internalua pode escolher se preferem ir para a frente ou voltar para páginas anteriores

Este trabalho, NeoMaso Prometeu, baseia-se no mito grego de Prometeu, que, como castigo por ter roubado o fogo dos deuses para entregá-lo aos homens, recebeu a pena de ter seu fígado devorado todos os dias por uma água. À noite, seu fígado se recompunha, e assim seu sofrimento não tinha fim. Na versão de Franco, Prometeu sente prazer em seu suplício. Por esta HQ, o pesquisador recebeu o prêmio Menção Honrosa na 13º Videobrasil - Festival Internacional de Arte Eletrônica, realizado de 19 a 23 de setembro deste ano.

Do papel ao computador

No início, segundo Franco, os tecnófobos e pessimistas fixaram-se apenas nas falhas para declarar o computador inútil para a criação de quadrinhos. Atualmente, os computadores tornaram-se ferramentas essenciais nos estúdios dos quadrinhistas e artistas os utilizam para a criação de efeitos especiais, designers de tipologias os usam para criar seus próprios alfabetos e grandes editoras possuem departamentos voltados exclusivamente para a colorização em computador. Franco lembra ainda que, mais recentemente, artistas gráficos passaram a desenvolver seus trabalhos online, em contato direto com outros artistas.

Com a popularização dos CD-Roms e da internet, os signos visuais das HQs passaram a ser adaptados para essas novas mídias. No início, porém, as tiras adaptadas para o computador eram estáticas, sem utilizar recursos como som, movimento e terceira dimensão. Os quadros eram apresentados um a um, em interatividade com o usuário, que podia imprimir o ritmo à sua leitura. Esta característica por si só já descaracterizava o quadrinho, uma vez que, visitando um quadro por vez, a percepção de mais de um quadrinho em um só golpe de vista, uma importante característica das HQs, era perdida.

Segundo Franco, "as inovações de linguagem ainda são tímidas, mas já são um indício do que teremos em breve, pois as mudanças provocadas pela interatividade, ou seja, as possibilidades de ação do leitor/internauta, abalam a divisão tradicional entre aquele que faz e aquele que consome histórias em quadrinhos".

* Fabio Ramos é colecionador de gibis, jornalista free lancer e colunista de diversos sites na Internet.





2/06/2009

Fanzines Japoneses: a qualidade dos amadores


Por: Sérgio Peixoto Silva

Fanzine no Japão é como mato: tem aos milhares! Mas antes de tudo, é bom que se explique o porquê de tamanha produção por parte dos amadores e o porquê do monstruoso consumo de mangás pelos japoneses.

Que os japoneses consomem mangás aos quilos todo mundo já sabe, mas poucos sabem o porquê de tamanho consumo. Mangá é o nome que eles dão aos seus quadrinhos. A realidade é que depois da segunda guerra, os japoneses trabalharam pesado para reerguer seu país e transformá-lo na potência econômica que é hoje. Houve uma dedicação ao serviço que muitas vezes chegava-se a 12 ou 16 horas por dia uma jornada de trabalho. Era comum que se recusasse a sair de férias e, não restavam muitas opções de lazer aos japoneses, além de ler livros ou quadrinhos. Durante as viagens de ida e volta ao serviço, eles liam muito. Nos anos 50, período em que a maioria da população japonesa não tinha recurso, popularizou-se as casas de aluguel de mangás. Nos anos 60/70 elas deram lugar às livrarias como hoje conhecemos, e a lenta recuperação da economia japonesa trouxe dinheiro para o bolso do povo, que começou a dar-se ao luxo de comprar o que antes só podia alugar. Nos anos 80 a coisa explodiu, e algumas revistas semanais alcançaram a monstruosa marca de cinco milhões de exemplares vendidos semanalmente.

Como se vê, o mangá é algo enraizado na cultura japonesa há mais de três gerações. Chega-se tanto quanto o futebol e o samba para nós brasileiros. É natural que muitos leitores de mangá desejem um dia se tornarem também desenhistas ou roteiristas de mangá. E para isso, o primeiro passo é divulgar seu trabalho através de fanzines, que no Japão recebe o nome de doujinshi. Nesse ponto, o esquema funciona como no Brasil, juntando-se um grupo de amigos e dividindo-se as despesas e tarefas. A diferença começa na hora da produção.

No Japão, é comum gráficas e outras empresas envolvidas na produção de revistas ( fábricas de tintas, grampos para revistas, papel, etc. ) e as próprias editoras financiarem a edição dos doujinshis. Como resultado, eles têm um ótimo acabamento, alguns chegando a requintes com capas em acetato ou papel bem grosso, letras em dourado ou prateado na capa, miolo com papel de primeira, impressão profissional, etc. O resultado desse incentivo, são fanzines com qualidade de fazer inveja a maioria das revistas em quadrinhos profissionais do Brasil.

A linha de raciocínio dos patrocinadores é simples: Apoiando-se os novatos, eles estão de olho no futuro, quando alguns deles poderão se tornar profissionais. Assim sendo, poderão surgir séries de sucesso, com vendas de muitas revistas, mantendo-se assim, a cadeia produtiva. Artistas como Katushiro Otomo ( Akira ), Nobuhiro Watsuki ( Kenshin ) e Naoko Takeuchi ( Sailor Moon ) foram revelados através dos doujinshis.

O público que consome tais fanzines, os compram em livrarias especializadas, na Internet, pelos correios e principalmente em convenções que ocorrem mensalmente em vários lugares do Japão. A convenção semestral que ocorre em Tókyo, tem inscritos mais de 40 mil grupos de fanzineiros. Mas apenas os melhores acabam participando, reduzindo este número para 15 mil. O público que visita tais convenções chega às centenas de milhares e todos compram doujinshis.

Há fanzineiros que não querem deixar de lado sua liberdade criativa, e vendem seus trabalhos apenas em convenções. Alguns deles chegam a vender mais de 10 mil exemplares numa única convenção e ainda sobra gente querendo mais. É mole?

Com isso, podemos perceber o porquê da qualidade dos mangás. Com tantos candidatos a artistas profissionais, só os realmente bons terão chance de um dia publicarem nas grandes revistas de quadrinhos no Japão.

ENTREVISTA: Cedraz


Por: Alex Sampaio

O criador da Turma do Pipoca, o baiano Antonio Luiz Ramos Cedraz, mais conhecido por Cedraz, fala do início da sua carreira como escritor e desenhista, das suas novas criações, dos seus planos para o futuro, da importância dos fanzines como divulgador dos quadrinhos alternativos, da falta de investimentos dos editores nacionais e também da necessidade de se produzir trabalhos com qualidade, nessa excelente entrevista.

Madeinquad: Como Cedraz percebeu sua vocação para os desenhos?
Cedraz: Quando garoto, morando numa cidade do interior – Jacobina-BA – eu lia revistas da Ebal. Até aí não tinha ainda tentado desenhar. Porém, um dia um amigo estava desenhando e eu achei que também poderia fazer. Fui para casa e fiz um desenho do Tiradentes. Mostrei o desenho ao amigo e ele passou a me incentivar.


Madeinquad: Você participou de alguns cursos para aprimorar sua arte?
Cedraz: Sim. Fiz um curso por correspondência e tempos depois fiz vestibular para artes plásticas. Cursei a faculdade por dois anos, mas tive que abandonar por falta de tempo.


Madeinquad: Qual o seu estilo de desenho?
Cedraz: Infantil ou cômico.


Madeinquad: Que tem achado dos quadrinhos que circulam nas bancas?
Cedraz: Deixei de comprar as revistas de super-heróis. Os argumentos estão muito chatos. Os heróis não são mais tão heróis como deveriam ser. Ficou uma coisa sem lógica. As infantis continuam devendo novos lançamentos. As editoras deveriam investir mais no quadrinho brasileiro.


Madeinquad: Tem comprado revistas ultimamente?
Cedraz: Sim, embora bem poucas.


OS ARGUMENTOS DAS REVISTAS DE SUPER-HERÓIS ESTÃO MUITO CHATOS. FICOU UMA COISA SEM LÓGICA!


Madeinquad: Fale um pouco sobre a Turma do Pipoca:
Cedraz: A Turma do Pipoca foi um projeto que pensei que iria dar certo. A editora se mostrou muito interessada. Obrigou-me a produzir diversos números dizendo que a revista seria mensal. Por fim, só publicou um único número e ficou esperando que a publicação emplacasse. Faltou continuidade. Se eles queriam testar só com um número, por que me exigiram fazer cinco? Coisas de editor brasileiro...


Madeinquad: Qual sua opinião para a Turma do Pipoca não ter dado certo na Editora Sisal?
Cedraz: Confesso que não sei. Acho que a principal causa, foi a falta de periodicidade.


Madeinquad: E a Turma dos Guris?
Cedraz: Na verdade, a Turma dos Guris é a mesma Turma do Pipoca.


Madeinquad: Que tem feito ultimamente em termos de quadrinhos?
Cedraz: Diversas coisas. Estou elaborando cartilhas educativas e promocionais para empresas e escolas e estou preparando tiras para jornais com novos personagens. Criei uma série de historinhas com dois gêmeos e seus amigos. Se tudo correr bem, breve estarei divulgando os personagens. A criação é minha, os textos do Tom e os desenhos do Sidney.


Madeinquad: Por que o artista brasileiro tem sempre que abandonar os quadrinhos e partir para outras direções, a exemplo da publicidade?
Cedraz: Por falta de editores que queiram investir. Todos sabemos que no início as vendas de uma revista não dão lucros, mas se o trabalho for bom, com o decorrer do tempo os leitores passarão a se acostumar com a publicação e por certo o trabalho vinga. É aí que se necessita do investimento, do editor acreditar e incentivar.


Madeinquad: O que você acha da avalanche de publicações americanas que invadem nossas bancas atualmente?
Cedraz: Muito prejudicial. Infelizmente os editores e os leitores brasileiros preferem o que é de fora. Mas essa mentalidade também é culpa nossa, já que não sabemos boicotar porcarias que vêm de fora. Você já percebeu que o brasileiro está perdendo o amor por sua própria língua e cultura? por que Book? Fire Comics? Art News? Etc. etc. etc.

EDITOR E O ARTISTA TÊM QUE FAZER UM TRABALHO BEM PROFISSIONAL!

Madeinquad: Existe futuro para o artista brasileiro em nosso país, ou teremos sempre que bater às portas de editoras americanas?
Cedraz: Creio que existe sim. Não devemos e nem podemos abandonar a luta. O futuro está à nossa frente. Eu ainda tenho muito gás para dar.


Madeinquad: Que falta para os quadrinhos brasileiro difundirem mais pelo país e partirem para algo mais sério, ao contrário de publicações basicamente voltadas para o erotismo?
Cedraz: O editor e o autor acreditar e fazer um trabalho bem profissional.


OS FANZINES TÊM UMA FORÇA QUE MUITA GENTE NEM IMAGINA!


Madeinquad: E o artista brasileiro tem melhorado seu potencial criativo para exigir respeito dos editores?
Cedraz: Sempre tiveram. Agora que muitos estão trabalhando para estúdios Marvel-DC foi que aumentou a mídia a respeito. E isso é muito bom.


Madeinquad: Tem preferência por algum artista nacional?
Cedraz: Sim. Eu gosto muito do Emir Ribeiro. O Gustavo Machado, o Ziraldo, o Laerte, etc.


Madeinquad: Que acha dos fanzines como publicação alternativa?
Cedraz: Os fanzines têm uma força que muita gente nem imagina. Muitos artistas brasileiros são hoje conhecidos graças aos fanzines. Acho super importante essa força que os zines dão pra gente.


NÓS ARTISTAS, DEVEMOS COLOCAR NOSSO MATERIAL EM TODO VEÍCULO QUE FOR POSSÍVEL!


Madeinquad: Quais suas influências como artista?
Cedraz: No início, como eu morava em um lugar que via poucas publicações, tive como maior influência o Maurício de Sousa, o Igayara, o Isomar e os desenhistas de Hanna Barbera.


Madeinquad: Quais os planos de Cedraz para seus personagens?
Cedraz: Estou apostando nos Irmãos Gêmeos. Trata-se de uma turminha de garotos com cerca de um ano de idade, mas com pensamentos críticos e adultos. Fazem parte das histórias o João Vitor, um garoto calmo e observador; Marina, sua irmã, auoritária e dominadora; Tobias, um garotinho chorão que usa o seu choro para conseguir o que quer; Godofredo, um garoto gordo e preguiçoso; Eva, que é uma garota otimista e organizada e Willy, que tem idéias capitalistas.


ACHO QUE DEVERÍAMOS BOICOTAR AS PUBLICAÇÕES HORRÍVEIS QUE CIRCULAM POR AÍ!

Madeinquad: Mais novidades virão por aí?
Cedraz: Sim. Tem também a ABRA-KA-DA-BRA, que é a história de um anjinho que gosta de uma fada, que é amiga de uma bruxa, que ama um gnomo... mas essa turma vai ficar um pouco na "gaveta".


Madeinquad: Qual sua opinião sobre a perspectiva do quadrinho brasileiro para este ano?
Cedraz: Acho que ainda há muito caminho a seguir, mas devemos lutar e tentar colocar o nosso material em todo veículo possível. O Estúdio Cedraz está investindo no quadrinho educativo. No final do ano passado fizemos diversas revistinhas educativas e neste ano devemos continuar com esses projetos. Pretendemos também editar alguma coisa como editora independente em bancas.


Madeinquad: Suas considerações finais:
Cedraz: Acho que devemos produzir trabalhos com qualidade e boicotar algumas publicações horríveis que circulam por aí. Não sou contra o quadrinho estrangeiro, apenas não aprovo essa onda de que só o que presta é o que vem de fora.


Madeinquad: Nossos sinceros agradecimentos ao artista Cedraz pela atenção, paciência e brevidade em nos atender.

2/05/2009

Quadrinhos de Sucesso

Por: Fabio Ramos*

O início da década de trinta marcou o aparecimento e o desenvolvimento das histórias em quadrinhos nos Estados Unidos. Antes disso já haviam algumas histórias desse tipo, como Wash Tubbs, em 1924, de Roy Crane. Porém, elas apresentavam um desenho caricato, quase humorístico, pois os quadrinhos começaram com histórias cômicas nos suplementos dominicais dos grandes jornais americanos para divertir o público, e por isso mesmo foram chamados de comics ou funnies. Esse tipo de desenho só mudou a partir de 1929 com Tarzan, criado por Edgar Rice Burroughs e desenhado pelo magistral Hal Foster, e com Buck Rogers, por Dick Calkins, que foi o primeiro grande sucesso dos comics.


Esse sucesso levou os sindicatos, que produzem e distribuem os quadrinhos para os jornais, a publicarem outras histórias de aventuras. Assim, surgiu em 1931 o bem bolado detetive Dick Tracy, de Chester Gould e, em 1933, Brick Bradford, de William Ritt e Clarence Gray, onde a fantasia e a ficção científica se mesclavam numa atmosfera jovial e festiva.


Para fazer frente a esses personagens, o King Features Syndicate resolveu lançar três novos personagens de uma só vez. Começava o ano de 1934, e o público americano se maravilhou com as aventuras de Flash Gordon, Jungle Jim ( Jim das Selvas ) e Secret Agent X-9 ( O Agente Secreto X-9 ). O mais curioso é que esses três personagens foram criados e desenhados pelo mesmo artista: Alex Raymond, então um jovem de 24 anos. Esse extraordinário artista e gênio criador nasceu em 2 de outubro de 1909 em New Rochelle, NY, batizado Alexander Gillespie Raymond, e desde cedo mostrou vocação para o desenho, tendo estudado na Grand Central School of Art. Começou a trabalhar como assistente de Russ Westover em Tillie, the Toiler ( Tillie, a Trabalhadora ) e depois com Lyman Young em Tim Tyler’s Luck.


Em Flash Gordon, Alex Raymond conta as aventuras de Flash, sua noiva Dale Arden e o professor Hans Zarkov, no planeta Mongo, cujo o imperador, o terrível Ming, ameaçava destruir a Terra. Terminada a aventura em Mongo, Flash passa uma temporada na Terra e volta a Mongo, agora para lutar com o tirano Bazor.
Em 1946, Alex Raymond cria o personagem Rip Kirby ( Nick Holmes ), que logo se transformou em seu novo sucesso.


Em 6 de setembro de 1956, Alex Raymond faleceu em um acidente de automóvel.

*Fabio Ramos é jornalista free lancer, colaborador de vários fanzines e colecionador de gibis.

CHEGA DE RETALHOS



Por: Alex Sampaio*


Folhear quadrinhos é muito bom mas, acho que ainda vamos ficar lembrando águas passadas, pois o que circula em bancas atualmente é muito ruim. Somos levados pelas circunstâncias ou por falta de opções a ler o que nos oferecem. E o que nos oferecem é muito pouco. Aliás, ver que nada mudou no cenário das publicações de HQs nos deixam muito preocupados, não só pelo fato em si, mas pelas muitas promessas que foram feitas no sentido de novos lançamentos e de uma mudança para melhor na cronologia de alguns personagens. Como quem fez as promessas parece tê-las esquecidas, vou esquecer que li também, e ficam elas por elas.


Incrível, é que alguns títulos lançados pelas editoras parecem destinados a leitores de péssimo paladar, pois nada sugerem, faltando luz e criatividade. Os estilísticos nostálgicos devem estar nocauteados com tantos dissabores. Decididamente fica difícil acompanhar o raciocínio dos editores nacionais, pois dos títulos lançados, só vingam poucos números. É começando e cancelando. Por costume, evita-se falar mal do pranteado, assim como, para não soar catartídeo, não se fala mal dos iniciantes. É esperar e torcer.


Metaforicamente, é comum nos enchermos de esperanças quando vemos novos horizontes que nos chegam com promessas nos mar de almirante, fazendo-nos acreditar em novos tempos. Surge a expectativa que o avião vai decolar na HQ brazuca, mas ele nunca sai do chão. O jeito é ressussitar Santos Dumont...
A exemplo do que ocorre em outros mercados, o nosso também não foge à regra e embala na dita crise econômica. Parece que o apagão atingiu o setor, varrendo economicamente o mercado editorial brasileiro. Já se havia anunciado enfaticamente antes, que não havia risco de crise no setor, pois nossa máquina estava estável financeiramente e inclusive, em plena era de aceleração e crescimento. Atribui-se vários cancelamentos de títulos a uma extraordinária conjunção de fatores, dentre os quais, a falta de interesse do leitor brasileiro. Vamos fingir que não ouvimos isso...!!!


De qualquer forma, para assegurar alguns fados, os mangás estão consolidados no nosso mercado, e ao que parece, caiu no gosto do leitor. É uma razão para comemorar e esperar tudo de bom para o estilo. Estou até otimista com essa febre japonesa que assola o país, mas é bom que não esqueçamos que não basta traduzir, é preciso criar também. Vamos abrir espaço para o mangá tupiniquim também. Acredito que vai dar! Assim ou assado, estaremos progredindo. Vamos peneirar e mostrar nosso estilo de fazer mangá. Nada de redemoinhos e upgrade. Como já ensinava Monteiro Lobato: Uma nova maneira de criar o Saci Pererê, é sentir o gosto popular. O primeiro mundo não é só Disney Word, mas o Mangá Word. Chegaremos lá...!!!


* Alex Sampaio é colunista do Made in Quad, editor do fanzine Made in Quadrinhos e colecionador de gibis.

E N T R E V I S T A: Edgard Guimarães


Batalhador incansável em prol da divulgação dos quadrinhos em geral, com atenção especial aos independentes, Edgard Guimarães também faz HQs. Com seu fanzine QI ( Quadrinhos Independentes ), ficou conhecido em todo o Brasil. Vários prêmios destinados a categoria seu trabalho conquistou. Nesta entrevista ao nosso blog, ele fala sobre suas afinidades, seus interesses, sobre seu fanzine, suas influências, sobre o futuro dos quadrinhos, dentre outros assuntos. Confiram o bate-papo:
Por: Alex Sampaio

1. Madeinquad: Quem é Edgard Guimarães?
EG: Sou engenheiro e trabalho como professor universitário. Nas horas vagas faço quadrinhos e publico e edito fanzines. Também tenho escrito textos sobre quadrinhos e zines.

2. Madeinquad: Quais suas afinidades com as HQs?
EG: Gosto de quadrinhos sobre todos os aspectos. Ler, produzir, publicar, estudar, etc. Acho que a origem disso foi o contato com revistas de quadrinhos na infância, antes mesmo da alfabetização e também com o incentivo dos pais para leitura, a redação e o desenho. Com esta base inicial, o restante pôde ser desenvolvido.


3. Madeinquad: Como surgiu seu interesse pelos fanzines?
EG: O começo foi meio por acidente. Ao ver o anúncio de diversos fanzines nas revistas Eureka e Spectro, pensei que fossem todos revistas de quadrinhos e procurei entrar em contato. Quando recebi os primeiros números, vi que haviam revistas como Historieta e também edições com textos sobre quadrinhos como Opar Boletim. A partir daí, meu interesse foi cada vez mais ficando amplo.


4. Madeinquad: Fale um pouco sobre seu fanzine Psiu:
EG: Em 1982 eu já mantinha há três anos contatos com editores de fanzines. Aí resolvi aditar uma revista trazendo seleção de minhas HQs até o momento. Assim, editei o nº 1 de Psiu. A idéia era fazer a revista semestral com HQs de colaboradores. Também teriam destaques na revista, textos sobre quadrinhos.


5. Madeinquad: Quantos números do Psiu circularam?
EG: A intenção era fazer do Psiu uma publicação semestral, mas não consegui, pois era uma coisa muito trabalhosa. O nº 2 só circulou em 1985 e o nº 3 em 1990.


6. Madeinquad: Quais suas influências nos quadrinhos?
EG: As influências são muito variadas e até hoje continuo observando muito os trabalhos publicados, tanto em banca, livraria e no meio independente. No roteiro, eu cito sempre os trabalhos de Henfil, Berardi e Oesterheld, como os que muito me impressionaram.


7. Madeinquad: Você tem um estilo próprio de compor HQ. Como surgiu a série Os Bichos?
EG: Esta pergunta me deixou intrigado. De fato eu criei uma série chamada Os Bichos em 1972, quando eu ainda era bem moleque. Apesar da semelhança, esta série não foi inspirada em Animal Crackers, de Rog Bollen ( no Brasil chamada de Os Bichos ), que só conheci em 1974 quando publicada em Eureka. Mas esta minha série Os Bichos nunca foi publicada, então não sei como você conseguiu esta informação.


8. Madeinquad: Qual a sensação de já ter ganho o Troféu Ângelo Agostini?
EG: É uma grande satisfação, principalmente porque representa o gosto de uma parcela dos leitores que deram o seu voto ao meu trabalho. O troféu Ângelo Agostini eu ganhei duas vezes na categoria fanzine, pelo meu trabalho com o QI. Além disso, ganhei também o Prêmio Jayme Cortez, dado pela AQC – Associação de Quadrinhistas e Caricaturistas, aos incentivadores de quadrinho nacional.


9. Madeinquad: Como tem visto a HQ nacional ultimamente?
EG: O mercado para a HQ brasileira é muito instável. Às vezes há bons lançamentos, mas ultimamente anda muito ruim. Até as revistas de humor como Chiclete com Banana e Níquel Náusea, sumiram. Também o terror e o erótico que foram peças de resistência, sumiram. O que salva é que os produtores independentes não desanimam e produzem muita coisa boa.


A INICIATIVA PRIVADA JAMAIS VAI ABRIR MÃO DO LUCRO FÁCIL DA IMPORTAÇÃO DE HQs PRONTAS, PARA INVESTIR EM PRODUÇÃO NACIONAL!


10. Madeinquad: Existe futuro para nossa HQ, ou teremos sempre que bater às portas das editoras americanas?
EG: Sempre será possível que um autor ou um personagem consiga cair no gosto do público e, apesar de toda a dificuldade, conquiste uma fatia estável de mercado, como fez Mauricio de Sousa. Mas, para a criação de uma indústria diversificada de produção de quadrinhos brasileiros, seria necessário uma proteção por parte de leis, ou investimento através do estado.


11. Madeinquad: Com essa globalização fica meio difícil. Quase uma uropia...
EG: Nessa época de liberalismo econômico em que nem as estatais produtivas resistem ao sucateamento, não há esperança de apoio por parte do Governo. A iniciativa privada não vai abrir mão do lucro fácil da importação de HQs prontas, para investir em produção nacional.


12. Madeinquad: Como surgiu a idéia de editar o QI?
EG: Na verdade, a divulgação de fanzines é parte integrante da maioria dos zines. Antes de 1993 haviam pelo menos três fanzines que faziam divulgação maciça de outros zines. Eram o Opinião, Repórter HQ e Tempo Livre. No final de 1992, só o Tempo Livre estava sendo editado. Achei que havia espaço para um fanzine exclusivamente de divulgação de outros zines.


13. Madeinquad: Como você consegue conciliar sua vida profissional com a elaboração do QI, que tem uma tiragem significativa de 700 exemplares e,com isso, exige tempo para impressão, envelopamento e distribuição?
EG: De fato não é fácil, meus fins de semana são inteiramente dedicados aos fanzines. A parte mais trabalhosa é escrever os textos sobre todos os zines recebidos. Não é à toa que de vez em quando, para não atrasar a numeração do QI, eu faço dois números de uma única vez. Também dá bastante trabalho montar os exemplares, já que a gráfica passa o material impresso com as folhas soltas, envelopar e endereçar.


14. Madeinquad: Quem custeia o zine?
EG: A impressão é em parte paga pelos anúncios. O restante, o Worney e eu complementamos. O porte do correio sou eu quem custeio.


15. Madeinquad: Que tem lido ultimamente em termos de HQs?
EG: Tirando o Mauricio de Sousa e Disney, leio tudo que sai em banca e livraria. Também procuro adquirir álbuns portugueses, que é uma boa maneira de conhecer os quadrinhos europeus. Compro também algumas edições americanas, mas só de HQs clássicas.


16. Madeinquad: Quais artistas nacionais merecem destaque ultimamente?
EG: Há no Brasil uma quantidade muito grande de artistas de ótima qualidade. Recentemente saíram novos trabalhos muito bons de Shima e Colin e, também do Laerte. Há autores mais novos também com trabalhos admiráveis, como a arte de André Vazzios, Alexandre Jubran, o álbum Manticore feito por Gian Danton, Antonio Eder e outros. Nos fanzines, há outros tantos autores muito interessantes, como Henry Jaepelt e Agenor Bottene, só para citar alguns.


O GERME DAS MINHAS INSPIRAÇÕES ESTÁ MUITOS ANOS ATRÁS, MAIS PRECISAMENTE NUM PROGRAMA DE TV!


17. Madeinquad: Tem produzido alguma coisa sobre quadrinhos atualmente?
EG: Há pouco tempo reuni todos os meus textos sobre quadrinhos na forma de um livro chamado "Desenquadro", que está sendo distribuído por mim. De lá para cá saíram uns poucos textos meus sobre fanzines em revistas de banca. Tenho produzido textos mais aprofundados para o Congresso de Comunicação promovido pelo Intercom, no Grupo de Trabalho Sobre Quadrinhos pelo Flávio Calazans. No ano passado apresentei um texto sobre crítica em Recife. Este texto foi publicado recentemente no fanzine Top!Top! do Henrique Magalhães. Este ano apresentarei no Rio de Janeiro um trabalho sobre conceituação da história em quadrinhos.


18. Madeinquad: De onde vêm suas inspirações para produzir seus roteiros?
EG: Normalmente é uma mistura de muitas coisas acontecidas, lidas, vividas, etc. Só um exemplo: Há muitos anos, o programa Fantástico da Rede Globo apresentou uma série de reportagens sobre temas sobrenaturais feitos por um grande escritor de ficção científica, que não tenho certeza se era o Arthur Clarke. Na conclusão da série, ele dizia que todos os casos que ele tinha investigado eram fraudes ou fenômenos naturais. Eu sempre quis assistir a alguma série de TV que abordasse o sobrenatural, mas de maneira desmistificadora. Quando surgiu Arquivo X, eu pensei que esta série fosse dessa maneira, mas não é. Então em 1998, quando surgiu uma chance de produzir roteiro para eventual publicação em revista, eu criei uma série com essas características. Veja que o germe da criação está muitos anos atrás num programa de TV estilo documentário.


MUITAS EDITORAS TRABALHAM DE FORMA IRREGULAR, ONDE NÃO PAGAM AO ARTISTA E PUBLICAM TRABALHOS SEM AUTORIZAÇÃO!


19. Madeinquad: Você já tentou contato com alguma editora para publicação de algum trabalho?
EG: Na época da editora Press, os editores chegaram a me solicitar alguns roteiros. Eu fiz dois e um deles foi publicado totalmente modificado. Depois disso eu sempre enviei HQs pelos correios sempre que haviam algumas revistas interessantes sendo publicadas. Algumas vezes, meu trabalho foi publicado como colaboração do leitor, a exemplo da revista Circo e Mestres do Terror. Em 1998, o Worney tentou publicar uma revista de quadrinhos e eu ia participar com o roteiro de uma série dentro da revista. Este projeto não deu certo e agora a história que foi feita eu vou publicar em um próximo número do QI.


20. Madeinquad: Como você vê as reclamações dos artistas nacionais contra os editores sobre o não pagamento de suas publicações nas revistas?
EG: Infelizmente há um número significativo de pequenas editoras que trabalham de forma irregular, muitas vezes não pagando ao artista, ou publicando trabalhos sem autorização. Os canos não são só nos colaboradores, as gráficas e distribuidoras também levam prejuízos. Já ouvi muitos casos acontecidos e, mesmo comigo, que quase nunca publiquei, já deixei de ser pago também.


21. Madeinquad: Que falta para o quadrinho nacional difundir mais pelo país?
EG: Falta principalmente investimento. Isso só pode ser feito através de editoras com um mínimo de infraestrutura e capital. Normalmente estas editoras preferem comprar material já pronto feitos no exterior, ao investir na produção brasileira. Então, seria necessária uma legislação que protegesse o quadrinho nacional, que incentivasse o editor a investir no nosso mercado. Isso é muito pouco provável em um governo que está se desfazendo das responsabilidades estatais.


SERIA NECESSÁRIA UMA LEGISLAÇÃO QUE PROTEGESSE O QUADRINHO NACIONAL, QUE INCENTIVASSE O EDITOR A INVESTIR NO NOSSO MERCADO!


22. Madeinquad: E o artista Edgard, freqüentou alguma escola ou curso de desenho para produzir HQ?
EG: Infelizmente não, o que em parte explica minhas limitações como desenhista. Tive oportunidade de ler alguns desses cursos de desenho por correspondência e livros sobre o assunto, mas não dá para comparar. Só para lembrar, o Frank Frazetta, com cinco anos de idade, já estava matriculado numa escola de desenho de um pintor conceituado, tendo aulas com modelo vivo.


23. Madeinquad: Que acha dos fanzines como publicação alternativa?
EG: Considero a publicação de revistas independentes algo muito importante, por vários motivos. Nos fanzines de nostalgia, por exemplo, é que as informações sobre quadrinhos antigos estão sendo preservadas, além dos próprios quadrinhos que são republicados. Também nos fanzines sobre quadrinhos atuais é que a crítica é feita , uma vez que os jornais e revistas, grande parte das vezes, se ocupam de releases ou opiniões não fundamentadas. Também é o espaço para divulgação de centenas de artistas, tanto iniciantes, como autores com trabalhos pessoais.


OS FANZINEIROS NÃO PODEM DESISITIR DE PRODUZIR E EDITAR, MESMO QUE AS CONDIÇÕES LHES PAREÇAM ADVERSAS!


24. Madeinquad: Você lê todos os fanzines que chegam as suas mãos?
EG: Os fanzines de quadrinhos eu leio todos. Às vezes quando têm HQs de continuação, espero a conclusão para ler tudo de uma única vez. Nos fanzines de música, poesia e assuntos gerais, faço uma leitura seletiva. Olho tudo e só leio o que mais me interessa.


25. Madeinquad: Seu recado final:
EG: O que sempre digo aos fanzineiros é que não desistam de produzir e editar, mesmo que as condições lhes pareçam adversas. Não é porque há uma política de governo que não atenta para as condições da população em geral, que vamos deixar de fazer nossas publicações que nos dão tanto prazer.


N/R: Nossos sinceros agradecimentos ao artista Edgard por nos conceder esta excelente entrevista e por sua paciência em responder tantas perguntas.