5/19/2009

Criada Gibiteca de Fortaleza

A criação de uma Gibiteca em Fortaleza sempre foi o sonho de todos que produzem ou apenas lêem quadrinhos na capital cearense. Por sua importância, foi o tema da segunda edição publicada pela Seqüencial, em 25 de julho de 2006, ainda quando tudo não passava de uma demanda em discussão no âmbito do Orçamento Participativo da Prefeitura. Hoje, passados quase três anos, o sonho tornou-se realidade dentro do projeto de ampliação da Biblioteca Municipal Dolor Barreira, reinaugurada dia 30 de abril. Nela se encontra a Gibiteca de Fortaleza!

O espaço conta hoje com um acervo operacional de 3.476 gibis de várias editoras, divididos por gêneros. O leitor vai encontrar uma sessão infantil com Luluzinha, Turma da Mônica, e afins; outra com os chamados quadrinhos para adultos, incluindo clássicos como "Watchmen" e "V de Vingança"; tem mangás, publicações underground e algumas de teor histórico; assim como obras de Lourenço Mutarelli e Robert Crumb. Nada mau para começar a brincadeira.

O processo de aquisição de títulos é lento, uma vez que só pode acontecer através de edital público. Desta fase de implementação também fazem parte as discussões públicas promovidas na Gibiteca, reunindo na maioria desenhistas e roteiristas de quadrinhos, estudiosos da área, produtores culturais e leitores do gênero.

5/04/2009

UMA BOFETADA NA ESPERANÇA

Por: Alex Sampaio*

Dos bons tempos, só restam lembranças. Um exagero? Talvez! Há uma sutil, mas fundamental diferença entre as publicações de quadrinhos dos Anos de Ouro e as atuais. A começar pelos personagens marcantes que perderam suas revistas e não são mais publicados.

De toda forma, para o aficionado, resta o sentimento ao sentimentalismo. O conflito interior é maior quando se perde a publicação do herói preferido. É como se fosse um relacionamento de pai e filho. Sem os famosos dogmas, a realidade do leitor é bem simplória, pois para quem acompanha a história do seu personagem e sua existência, perdê-lo é como se todo um contexto pessoal desabasse no intricado conflito pessoal, num simbólico exemplo dessa relação. “ Por que me abandonaste?”.

O que mais vemos a algumas décadas, são verdadeiras explosões de cancelamentos de publicações e o leitor se sente órfão dessa inusitada incompetência editorial. Conforme o tempo passa, nos perguntamos quem são nossos dirigentes que tanto se equivocam nos planejamentos editoriais? A pergunta talvez seja apenas retórica. Há entre o leitor e o editor um tal entrelaçamento que entendemos como uma nova esperança de futuros acertos.

O que nos incomoda como leitor, é que não temos a liberdade de podermos influenciar no que é bom e o que é ruim, pois nossa vontade não prevalece na escolha do mercado imediatista brasileiro. E nesse contexto, a angústia supera o consolo e assim se vive sucessivamente na linha de publicações e sua alternância de afeto e falta.

No convívio do leitor com seus personagens, prevalece uma relação bilateral. É como se fosse um casamento sem data para acabar. E pelos complicados meandros dessa relação, percebe-se perfeitamente que na fase conjuntural em que vivemos, um retorno as origens dos bons e velhos heróis do faroeste, as impagáveis aventuras dos super-heróis que já caíram no esquecimento e tantos personagens infantis que não temos mais na memória, jamais serão publicados, pois não têm como cair no gosto popular pela falta de mídia, de uma vasta visibilidade junto ao público leitor.

Chega-se a conclusão, que vivemos a mercê de um livro sem competência, sem alternância, sem diálogo, compreensão, apoio e persistência. Restou uma bofetada na esperança.

*Alex Sampaio é colecionador de gibis, editor do zine Made in Quadrinhos e colunista de diversos sites na Internet.

ENTREVISTA: Roberto Guedes



O criador do selo Fire Comics, Roberto Guedes, fala dos seus personagens, do início da sua carreira, do contato com editoras, da aceitação dos leitores do seu trabalho e também dos seus planos para futuro, inclusive da criação de novos heróis, nessa sensacional entrevista ao nosso blog.
Por: Alex Sampaio

Antes de mais nada, é bom que os leitores conheçam um pouco sobre Roberto Guedes. Fale sobre você...
Bem, meus primeiros trabalhos foram quadrinhos de humor editados nas revistas Papa-Anjo e Udigrudi das editoras Ninja e Phenix, daqui de São Paulo. Isso aconteceu por volta de 1988. Editei também vários fanzines, tais como: Status Quo Comics, Tira Quente, Clássicos Piratas e o mais popular O Status Comics. A partir de 1992, passei a lançar personagens de minha autoria, Meteoro e Os Protetores em revistas próprias e também O devastador, A Protetora, Dr. Fantástico e Slady em Força Máxima. E por aí, vai...

MAU MAIOR ORGULHO FOI TER COLOCADO 1000 EXEMPLARES EM CIRCULAÇÃO EM 1995 DA REVISTA OS PROTETORES!

Qual a reação dos leitores com essas iniciativas?
Os heróis obtiveram uma boa aceitação no meio underground e por isso fui convidado a participar do debate sobre super-heróis realizado na 2º Conaqui em 1994, juntamente com feras como Ota (Mad) e o desenhista Marcelo Campos. Em 1995 criei o selo Fire Comics com a proposta de redefinir meu universo de super heróis, bem como de melhorar a parte gráfica e alcançar novos leitores.

Como surgiu o interesse pelos desenhos e consequentemente os quadrinhos?
Desde criança eu gostava de passar para o papel os personagens que via na TV. O Tarzan de Ron Eli ou o faroeste de Bonanza, foram minhas primeiras Hqs, embora na época eu não tivesse noção disso. O interesse pelos comics começou mesmo quando eu li um gibi do Príncipe Submarino em que este brigava com Hércules e com o Capitão Marvel. A partir daí, eu fiquei irremediavelmente fissurado em histórias em quadrinhos, principalmente do Universo Marvel.

E os roteiros... de onde vêm as inspirações?
Difícil dizer. Sempre gostei de escrever. Em 81 ganhei um concurso escolar de redação e em 84 escrevi algumas peças de teatro para o colégio. Tenho facilidade para desenvolver enredos, mas tudo de uma forma muito simples. Não sou filósofo social como o Frank Miller, nem tampouco faço “histórias cabeças” como Alan Moore. Creio não ter essas qualidades.

UM EDITOR PICARETA PROPÔS PUBLICAR O METEORO COMO UM MESTRE EM ARTES MARCIAIS. ELE QUERIA DESMORALIZAR O MEU PERSONAGEM PREFERIDO!

Fale um pouco sobre Os Protetores:
Eu criei Os Protetores por volta de 1983. Naquela época eu já me considerava um “expert” em quadrinhos e decidi que era hora de criar meus próprios personagens numa linguagem inspirada nas aventuras Marvel dos anos 60, porém, com toques de modernidade e devidamente adaptadas à realidade brasileira. O Estrela Negra e o Montanha não eram muito diferentes do que são hoje. Somente o Furacão mudou um pouco de lá para cá. Na época eu o batizei de Psi-Boy, pois não possuía poderes telepáticos. Em 92, após lançar Meteoro, Devastador e Protetora pelo selo Status Comics, acabou chegando a vez dos Protetores, que afinal de contas havia sido criado antes de todos os outros. Os desenhos foram feitos por João Prado ( hoje Joe Prado da revista Ufo-Team). Com o advento da Fire Comics, justiça foi feita e o grupo de heróis passou a ser o primeiro título do meu universo. A revista foi lançada em setembro de 1995, com arte de Reginaldo Borges e Cal, com uma bela produção gráfica e com mais de 1000 exemplares impressos. Um grande orgulho para todos nós.

E o gênero super herói, por que o estilo mais popular americano o influenciou?
É o tipo da coisa que não se explica muito bem. Quando você tem 10 anos e considera seu pai o “homem mais forte do mundo”, o apelo dos super heróis lhe fascina. Os uniformes, as cores e principalmente as histórias produzidas por Stan Lee e cia... como não me emocionar com o Hulk, O Aranha ou Homem de Ferro? Além disso, sou um eterno otimista! Para mim, o BEM há sempre de vencer o MAL.

Como todo entrevistador de artista nacional, uma pergunta não poderia faltar: Você já procurou alguma editora para mostrar seus trabalhos?
Procurei e fui procurado e, o Meteoro foi o protagonista nas duas ocasiões. Na primeira, na Phenix que chegou a produzir a história. Porém, acabou não lançando. Na segunda, o editor queria publicar o Meteoro, mas com várias mudanças no herói. Queria transformá-lo em um faixa preta em artes marciais e com vários recalques. Além disso, suas aventuras teriam que possuir muito sangue e mulheres peladas. Para finalizar, não queria remunerar o trabalho. Um tremendo picareta.

O que falta para o quadrinho nacional difundir mais pelo país?
Editores com “cabeças abertas”. Infelizmente as editoras estão cheias de reacionários que não sabem nada de quadrinhos e com opiniões já formadas sobre todas as coisas. Dizem que super herói é coisa de americano, mas deixam nossos desenhistas fazerem “catecismos”, quadrinhos baseados em RPG e Mangá. E nossa imprensa “especializada” também contribui para esse marasmo. Enquanto essa dor de cotovelo perdurar, continuaremos pequenos.

NOS ANOS 70 FORAM OS HISPÂNICOS, NOS 80 OS INGLESES. AGORA CHEGOU A NOSSA VEZ !


Existe futuro para o artista brasileiro em nosso país ou será que teremos sempre que bater às portas de editoras americanas?
Creio que o futuro já chegou! O fato de se publicar desenhos através de grandes editoras já prova isso. Só espero que não exijam que os desenhistas “clonem” o estilo de Jim Lee, como se é obrigado a fazer nos Estados Unidos. Nos anos 70 houve um êxodo dos hispânicos e nos 80, dos ingleses. Agora é a nossa vez.

Tem planos para outros heróis do seu selo?
Sem dúvida. Temos planos para o Slady, Protetores, Meteoro e Devastador, além de uma cambada de geniais super-caras.

E a aceitação dos heróis do seu selo... como anda a receptividade dos leitores?
Pelas cartas que recebemos já dá para se ter uma idéia. O Slady surpreendeu à todos por causa da temática científica e pelo apelo medieval. Os Protetores ganham pelo carisma e o Meteoro já virou uma coqueluche e virou o xodó da turma.

Suas considerações finais:
Gosto muito do seu blog, que sempre tem conseguido superar as expectativas e dou meus parabéns pelo seu primeiro esforço. Agradeço pelo espaço de poder falar um pouco sobre o nosso trabalho. Espero que outros artistas tenham essa oportunidade.

Entrevista publicada em 1990, período em que o Made in Quadrinhos saia em papel.