5/04/2009

ENTREVISTA: Roberto Guedes



O criador do selo Fire Comics, Roberto Guedes, fala dos seus personagens, do início da sua carreira, do contato com editoras, da aceitação dos leitores do seu trabalho e também dos seus planos para futuro, inclusive da criação de novos heróis, nessa sensacional entrevista ao nosso blog.
Por: Alex Sampaio

Antes de mais nada, é bom que os leitores conheçam um pouco sobre Roberto Guedes. Fale sobre você...
Bem, meus primeiros trabalhos foram quadrinhos de humor editados nas revistas Papa-Anjo e Udigrudi das editoras Ninja e Phenix, daqui de São Paulo. Isso aconteceu por volta de 1988. Editei também vários fanzines, tais como: Status Quo Comics, Tira Quente, Clássicos Piratas e o mais popular O Status Comics. A partir de 1992, passei a lançar personagens de minha autoria, Meteoro e Os Protetores em revistas próprias e também O devastador, A Protetora, Dr. Fantástico e Slady em Força Máxima. E por aí, vai...

MAU MAIOR ORGULHO FOI TER COLOCADO 1000 EXEMPLARES EM CIRCULAÇÃO EM 1995 DA REVISTA OS PROTETORES!

Qual a reação dos leitores com essas iniciativas?
Os heróis obtiveram uma boa aceitação no meio underground e por isso fui convidado a participar do debate sobre super-heróis realizado na 2º Conaqui em 1994, juntamente com feras como Ota (Mad) e o desenhista Marcelo Campos. Em 1995 criei o selo Fire Comics com a proposta de redefinir meu universo de super heróis, bem como de melhorar a parte gráfica e alcançar novos leitores.

Como surgiu o interesse pelos desenhos e consequentemente os quadrinhos?
Desde criança eu gostava de passar para o papel os personagens que via na TV. O Tarzan de Ron Eli ou o faroeste de Bonanza, foram minhas primeiras Hqs, embora na época eu não tivesse noção disso. O interesse pelos comics começou mesmo quando eu li um gibi do Príncipe Submarino em que este brigava com Hércules e com o Capitão Marvel. A partir daí, eu fiquei irremediavelmente fissurado em histórias em quadrinhos, principalmente do Universo Marvel.

E os roteiros... de onde vêm as inspirações?
Difícil dizer. Sempre gostei de escrever. Em 81 ganhei um concurso escolar de redação e em 84 escrevi algumas peças de teatro para o colégio. Tenho facilidade para desenvolver enredos, mas tudo de uma forma muito simples. Não sou filósofo social como o Frank Miller, nem tampouco faço “histórias cabeças” como Alan Moore. Creio não ter essas qualidades.

UM EDITOR PICARETA PROPÔS PUBLICAR O METEORO COMO UM MESTRE EM ARTES MARCIAIS. ELE QUERIA DESMORALIZAR O MEU PERSONAGEM PREFERIDO!

Fale um pouco sobre Os Protetores:
Eu criei Os Protetores por volta de 1983. Naquela época eu já me considerava um “expert” em quadrinhos e decidi que era hora de criar meus próprios personagens numa linguagem inspirada nas aventuras Marvel dos anos 60, porém, com toques de modernidade e devidamente adaptadas à realidade brasileira. O Estrela Negra e o Montanha não eram muito diferentes do que são hoje. Somente o Furacão mudou um pouco de lá para cá. Na época eu o batizei de Psi-Boy, pois não possuía poderes telepáticos. Em 92, após lançar Meteoro, Devastador e Protetora pelo selo Status Comics, acabou chegando a vez dos Protetores, que afinal de contas havia sido criado antes de todos os outros. Os desenhos foram feitos por João Prado ( hoje Joe Prado da revista Ufo-Team). Com o advento da Fire Comics, justiça foi feita e o grupo de heróis passou a ser o primeiro título do meu universo. A revista foi lançada em setembro de 1995, com arte de Reginaldo Borges e Cal, com uma bela produção gráfica e com mais de 1000 exemplares impressos. Um grande orgulho para todos nós.

E o gênero super herói, por que o estilo mais popular americano o influenciou?
É o tipo da coisa que não se explica muito bem. Quando você tem 10 anos e considera seu pai o “homem mais forte do mundo”, o apelo dos super heróis lhe fascina. Os uniformes, as cores e principalmente as histórias produzidas por Stan Lee e cia... como não me emocionar com o Hulk, O Aranha ou Homem de Ferro? Além disso, sou um eterno otimista! Para mim, o BEM há sempre de vencer o MAL.

Como todo entrevistador de artista nacional, uma pergunta não poderia faltar: Você já procurou alguma editora para mostrar seus trabalhos?
Procurei e fui procurado e, o Meteoro foi o protagonista nas duas ocasiões. Na primeira, na Phenix que chegou a produzir a história. Porém, acabou não lançando. Na segunda, o editor queria publicar o Meteoro, mas com várias mudanças no herói. Queria transformá-lo em um faixa preta em artes marciais e com vários recalques. Além disso, suas aventuras teriam que possuir muito sangue e mulheres peladas. Para finalizar, não queria remunerar o trabalho. Um tremendo picareta.

O que falta para o quadrinho nacional difundir mais pelo país?
Editores com “cabeças abertas”. Infelizmente as editoras estão cheias de reacionários que não sabem nada de quadrinhos e com opiniões já formadas sobre todas as coisas. Dizem que super herói é coisa de americano, mas deixam nossos desenhistas fazerem “catecismos”, quadrinhos baseados em RPG e Mangá. E nossa imprensa “especializada” também contribui para esse marasmo. Enquanto essa dor de cotovelo perdurar, continuaremos pequenos.

NOS ANOS 70 FORAM OS HISPÂNICOS, NOS 80 OS INGLESES. AGORA CHEGOU A NOSSA VEZ !


Existe futuro para o artista brasileiro em nosso país ou será que teremos sempre que bater às portas de editoras americanas?
Creio que o futuro já chegou! O fato de se publicar desenhos através de grandes editoras já prova isso. Só espero que não exijam que os desenhistas “clonem” o estilo de Jim Lee, como se é obrigado a fazer nos Estados Unidos. Nos anos 70 houve um êxodo dos hispânicos e nos 80, dos ingleses. Agora é a nossa vez.

Tem planos para outros heróis do seu selo?
Sem dúvida. Temos planos para o Slady, Protetores, Meteoro e Devastador, além de uma cambada de geniais super-caras.

E a aceitação dos heróis do seu selo... como anda a receptividade dos leitores?
Pelas cartas que recebemos já dá para se ter uma idéia. O Slady surpreendeu à todos por causa da temática científica e pelo apelo medieval. Os Protetores ganham pelo carisma e o Meteoro já virou uma coqueluche e virou o xodó da turma.

Suas considerações finais:
Gosto muito do seu blog, que sempre tem conseguido superar as expectativas e dou meus parabéns pelo seu primeiro esforço. Agradeço pelo espaço de poder falar um pouco sobre o nosso trabalho. Espero que outros artistas tenham essa oportunidade.

Entrevista publicada em 1990, período em que o Made in Quadrinhos saia em papel.

Um comentário:

Roberto Guedes disse...

Olá, Alex!
Muito bacana da sua parte resgatar aqui, no Made in Quadrinhos, essa antiga entrevista que fez comigo.

Mas acho importante você explicar que a mesma ocorreu nos anos 1990 - antes de meus trabalhos nas editoras Opera Graphica, Mythos, Panini etc. - , e que publicada originalmente nas páginas do seu fanzine homônimo, OK?

No mais, um forte abraço, e continue com seu importante trabalho de divulgação da HQB!