5/04/2009

UMA BOFETADA NA ESPERANÇA

Por: Alex Sampaio*

Dos bons tempos, só restam lembranças. Um exagero? Talvez! Há uma sutil, mas fundamental diferença entre as publicações de quadrinhos dos Anos de Ouro e as atuais. A começar pelos personagens marcantes que perderam suas revistas e não são mais publicados.

De toda forma, para o aficionado, resta o sentimento ao sentimentalismo. O conflito interior é maior quando se perde a publicação do herói preferido. É como se fosse um relacionamento de pai e filho. Sem os famosos dogmas, a realidade do leitor é bem simplória, pois para quem acompanha a história do seu personagem e sua existência, perdê-lo é como se todo um contexto pessoal desabasse no intricado conflito pessoal, num simbólico exemplo dessa relação. “ Por que me abandonaste?”.

O que mais vemos a algumas décadas, são verdadeiras explosões de cancelamentos de publicações e o leitor se sente órfão dessa inusitada incompetência editorial. Conforme o tempo passa, nos perguntamos quem são nossos dirigentes que tanto se equivocam nos planejamentos editoriais? A pergunta talvez seja apenas retórica. Há entre o leitor e o editor um tal entrelaçamento que entendemos como uma nova esperança de futuros acertos.

O que nos incomoda como leitor, é que não temos a liberdade de podermos influenciar no que é bom e o que é ruim, pois nossa vontade não prevalece na escolha do mercado imediatista brasileiro. E nesse contexto, a angústia supera o consolo e assim se vive sucessivamente na linha de publicações e sua alternância de afeto e falta.

No convívio do leitor com seus personagens, prevalece uma relação bilateral. É como se fosse um casamento sem data para acabar. E pelos complicados meandros dessa relação, percebe-se perfeitamente que na fase conjuntural em que vivemos, um retorno as origens dos bons e velhos heróis do faroeste, as impagáveis aventuras dos super-heróis que já caíram no esquecimento e tantos personagens infantis que não temos mais na memória, jamais serão publicados, pois não têm como cair no gosto popular pela falta de mídia, de uma vasta visibilidade junto ao público leitor.

Chega-se a conclusão, que vivemos a mercê de um livro sem competência, sem alternância, sem diálogo, compreensão, apoio e persistência. Restou uma bofetada na esperança.

*Alex Sampaio é colecionador de gibis, editor do zine Made in Quadrinhos e colunista de diversos sites na Internet.

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