8/06/2010

Entrevista: Viviane Machado

Por: Pedro Brandt

Quando e como começou o seu interesse por histórias em quadrinhos?
Nossa, eras passadas. Sempre amei ler. Aprendi a ler em casa, antes de aprender na escola. E fui impulsionada pelos quadrinhos. Quis muito aprender a ler para poder entender os balões.

Nesta época, o que você lia?
Li muito Monteiro Lobato, aventuras, fantasia... mas minha paixão eram os quadrinhos. Todo tipo de quadrinhos: Turma da Mônica, Tio Patinhas, super heróis, Calvin, Garfield...

Quando surgiu sua produção de quadrinhos?
Surgiu quando eu era bem pequena, cerca de sete anos, mas, profissionalmente, por volta dos 15. Comecei a fazer fanzines e pequenas ilustrações.

Como começou tudo isso?
Começou porque eu simplesmente quis criar minhas próprias histórias. Eu era aquele tipo de criança que via e queria fazer. Simplesmente senti uma vontade grande, principalmente porque sempre diziam que eu desenhava bem e eu quis ir além. Escrevia livros, desenhos, misturava ambos...

Saber desenhar e saber fazer quadrinhos são coisas diferentes. Como foi o seu aprendizado para fazer quadrinhos?
Muita leitura! Li livros sobre roteiro e livros sobre quadrinhos. Lia os quadrinhos, propriamente dito, estudava as poses dos personagens, via a posição de balões nas páginas, testava páginas de outras formas e passava para as pessoas para ser criticada. Tentava escrever a situação antes de imaginar. Fui muito autodidata nessa parte, mas não teria conseguido sem os livros. Sem contar que amo videogame e cinema. Isso me impulsionou a tentar criar enredos fantásticos.

Muitas meninas não lêem quadrinhos porque as temáticas das HQs são, geralmente, masculinas. Você acredita que isso justifica o número reduzido de meninas leitoras e, consequentemente, produzindo HQs?
Bem, realmente é uma coisa que não ajudou muito. No caso, fui muito influenciada pelos quadrinhos brasileiros, como Turma da Mônica, ou quadrinhos do Calvin e Garfield. Super-heróis nunca foi muito minha praia, embora gostasse de desenhos animados. Fui influenciada principalmente por meu pai. Infelizmente, a temática não agradava muito, ao menos a boa parte das mulheres. Sem contar que não havia muitos exemplos femininos para serem seguidos. Isso costuma influenciar as crianças. Você pode ver, por exemplo, quando somos crianças, e a professora pergunta o que você deseja ser quando crescer. Na minha época, as meninas queriam ser professoras e os meninos jogadores de futebol. Acredito sim, que o problema é especialmente a temática.

Você acredita que o mangá ajudou a trazer mais meninas para os quadrinhos?
Os mangás deram uma impulsionada para modificar esse quadro, com toda certeza. Hoje em dia acredito que, graças ao mangá, principalmente os mangás voltado para as meninas, aumentou consideravelmente o número de leitoras e quadrinhistas no Brasil, porque agora é um gênero que a maioria aprecia. No passado, com certeza havia menos mulheres por causa da temática, mas hoje em dia tudo mudou, não há dúvida. Não há apenas um tema infantil ou cheio de heroísmo, mas temas atuais. Sem contar que os mangakás têm um grande contingente de mulheres, o que influencia muito.

Qual o seu conselho para as meninas que querem começar a fazer quadrinhos?
Para as que querem começar, primeiramente tem que querer. Não é um mercado fácil, principalmente no Brasil, já que muita coisa vem de fora. Tem que estudar vários estilos, estudar roteiro e desenho. Não basta só ler quadrinhos e sair desenhando. Tem que ter conhecimento na área e buscar inclusive divulgação via internet. Acima de tudo, não ligar para críticas. Cada um tem seu próprio estilo e se vai fazer sucesso ou não, só depende de você.

E para aquelas que ainda não lêem quadrinhos?
Para as que não lêem, comecem! Hoje em dia a temática é muito variada, fala sobre problemas na adolescência, romances, vida atual. Há todos os tipos, para todos os gostos, desde comédia, terror ou até suspense. Acabou a lenda de que HQ é para crianças ou para adultos que gostam de ação. Tem HQs que são verdadeiras lições para a vida!

Acha que rola preconceito contra a produção feminina nos quadrinhos?
Bem, eu não acredito ter sofrido preconceito em relação a esse assunto. Pode haver sim, já que muitos nomes famosos estão ligados a homens, mas não lembro de ter sofrido nada em relação a isso.

Como tem sido o feedback para o seu trabalho?
Meu trabalho sempre foi voltado para o humor. Recebo muitos e-mails de pessoas elogiando, sugerindo, opinando. Simplesmente amo. É o que me impulsiona, sem dúvida, apesar das dificuldades. Sempre fico esperando que surja uma oportunidade para que meus livros sejam publicados ou porventura possam ilustrar um livro infantil. Mas estou sendo bem divulgada, graças a Deus.

Você já publicou alguma coisa profissionalmente?
Já! Mas devo admitir que profissionalmente há sempre aquela cobrança, aquela tensão. Ilustrei algumas cartilhas, fiz mascotes e desenhos para diversos sites, inclusive internacionais. Com quadrinhos eu publiquei duas histórias, uma em Talentos do mangá, inclusive. Mas eu gosto.

E de forma independente?
De forma independente já fiz revistas, tiras, ilustrei meus livros, etc.

Quais seus próximos passos?
Meus próximos trabalhos por enquanto são tirinhas no meu blog, onde estou sempre fazendo tirinhas dos meus livros ou de livros famosos, para divertir as pessoas.

4 comentários:

Anônimo disse...

A Viviane é nota DEZ!

Fanzine Episódio Cultural disse...

O Fanzine Episódio Cultural é uma publicação bimestral (Machado-MG/Brasil) sem fins lucrativos distribuído gratuitamente em várias instituições culturais. De acordo com o editor e poeta mineiro Carlos Roberto de Souza (Agamenon Troyan), “o objetivo é oferecer um espaço gratuito para que escritores, poetas, atores, dramaturgos, artistas plásticos, músicos, jornalistas... possam divulgar a sua arte”.

Anônimo disse...

Muito boa entrevista. Parabéns!

Anônimo disse...

MUITO BOA ENTREVISTA