Por: Fernando Lopes
Tenho percebido uma coisa muito interessante participando de discussões sobre quadrinhos na net: estou ficando velho! Mais do que isso, estou ficando um velho muito reclamão. E não estou sozinho.
Pertenço a uma geração privilegiada, que acompanhou um dos melhores momentos dos quadrinhos americanos: os anos 80. Foi uma década rica em verdadeiras obras-primas, daquelas que certamente estão entre as top 10 de qualquer gibiota que se preze: V de Vingança, Cavaleiro das Trevas, Watchmen, Batman: Ano Um, A Piada Mortal, Sandman, Orquídea Negra, Asilo Arkham e outras preciosidades. Isso sem mencionar revistas de linha com tesouros como o Demolidor de Frank Miller, X-Men por Chris Claremont e John Byrne, Novos Titãs por Marv Wolfman e George Pérez, Homem-Animal de Grant Morrison, Monstro do Pântano por Alan Moore e Steven Bissete e outras pérolas do gênero. Esse é o meu referencial.
A década de 90, porém, chegou trazendo novos nomes e novos quadrinhos. E alguma coisa se perdeu. Não quero aqui cair no lugar comum de malhar o fenômeno Image. Fiquei reclamão mas continuo detestando clichês. E malhar Jim Lee, Todd McFarlane e (principalmente) Rob Liefield virou o esporte preferido dos fãs de comics. Uma constatação, porém, é inevitável: os quadrinhos, particularmente os americanos, já viveram dias muito melhores.
Mas ainda temos bons quadrinhos. A segunda metade desta década tem sido menos ingrata que a primeira. Vimos surgir obras memoráveis como Marvels e O Reino do Amanhã. Nomes como James Robinson, Kurt Busiek, Mark Waid, Peter David, Garth Ennis e outros ganharam merecida projeção. As HQs se renovam e sobrevivem, ainda que sem o brilho da década passada. Talvez aí é que esteja o problema.
Minha geração ficou mal acostumada. Tivemos uma overdose de bons quadrinhos. Obras de valor insuperável, que figuram entre as melhores lembranças de nossa juventude e que, ainda hoje, mostram o invejável fôlego das coisas bem feitas. Ficamos exigentes demais. Acho que, no fundo, quando criticamos a atual fase dos comics americanos, estamos criticando não apenas um trabalho mas o próprio tempo, que insiste em nos tornar nostálgicos. Talvez, bem lá no fundo, estejamos apenas tentando resgatar nossa própria juventude perdida.
*Fernando Lopes é jornalista
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