3/01/2010

Sem censura e sem quadrinhos

Por: Alex Sampaio

Antes havia a censura e não tinhamos o melhor dos quadrinhos estrangeiros. Hoje, mesmo sem censura, continuamos a não ter quadrinhos. Tentam justificar com a constante desvalorização do real e o consequente aumento dos royalties internacionais. Puro engodo! A realidade que conhecemos é bem outra. Nossos editores, juntamente com as grandes editoras, não suportam investir naquilo que eles desconfiam. A cultura do empresário brasileiro, fomentada por anos de convivência de inflação alta no passado, ainda não se adaptou a investir sem o lucro imediato. Fica mais fácil manter títulos que sejam conhecidos do grande público que “arriscar” em uma nova publicação totalmente desconhecida dos leitores de HQ. Acham-se no direito de cercear nossa condição de consumidor. Para eles, não temos ótica para vislumbrar uma boa história.

Mesmo longe dos olhos dos censores que nos privaram de tantas obras primas, continuamos sem acesso ao quadrinho de ponta, como se ainda vivessemos na era do AI-5. Os americanos conseguiram superar o período ditatorial, onde Frederic Wertham acusava os quadrinhos e sua cultura de serem prejudiciais ao caráter em formação dos jovens daquele país e, finalmente, com os Comic Codes criado, “engessou” a imaginação dos artistas por muitos e muitos anos. Lamentável!!

A Ebal, La Selva, Novo Mundo, RGE, dentre outras editoras, em seus áureos tempos, ousaram em muitas oportunidades, e lançaram em suas publicações, vários personagens que caíram no gosto popular. E o mais incrível, é que muitos deles são lembrados até hoje. Alguns até são matérias em fanzines nostálgicos.

Sabe-se perfeitamente que o que se publica no Brasil não representa nem 10% do mercado de quadrinhos em circulação.

Muitos editores alegam que o perfil do leitor brasileiro é muito limitado. Credita-se a isso, o fato dos pais sempre estimularem seus filhos aos quadrinhos infantis. “A predominância dos títulos infantis refletem a nossa realidade”, justifica um editor paulista. Seja como for, quando uma publicação conquista seu espaço, ela vende, sobrevive e influência uma camada do público. Quando a Vecchi lançou a revista Tex, jamais imaginaria seu enorme sucesso, sendo hoje, a exceção do Pato Donald, Mickey e Zé Carioca, a publicação de maior longevidade no Brasil. A Vecchi pensou em cancelar Tex no início pela baixa venda, mas Lotário Vecchi foi teimoso e resolveu continuar com a revista e em 1975 Tex já estava consolidado como campeão de vendas da editora, onde atingiu a marca de 150 mil exemplares mensais. Nenhum personagem nasce campeão, por isso, deve-se insistir até ele conquistar seu espaço. Algumas editoras estão apostando nisso e parece que vai haver luz no fim do túnel. Pelo menos temos esperanças. É isso aí!

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