10/01/2009

ENTREVISTA: Pablo Mayer e Diogo César

A dupla Pablo Mayer e Diogo César, autores de A Casa Ao Lado são os mais representativos exemplos dos quadrinhos catarinenses. Eles acabam de lançar o primeiro álbum por uma editora, a HQM, o que mostra que o interesse por novos desenhistas e roteiristas de quadrinhos está crescendo além da Internet. A Casa Ao Lado, foi publicado com apoio do governo de Joinville e conta a história de Jorge, um homem separado e desempregado que, repentinamente, se vê numa trama de mistério após seu filho desaparecer em uma casa mal-assombrada ao lado da sua. Confiram a entrevista abaixo:

Por: Paulo Floro

1- Vocês tiveram apoio público para terminar o álbum. Acreditam que quadrinhos no Brasil precisam mais desse incentivo ou as editoras também precisam acordar para publicar mais autores nacionais?
Pablo: Todo incentivo é importante. O quadrinhista precisa se esforçar para mostrar o seu trabalho e procurar meios para fazê-lo. As editoras estão acordando, basta ver a quantidade de material nacional que elas andam publicando. Falamos muito na injustiça do mercado, que valoriza demais os autores estrangeiros, mas esquecemos que as editoras são empresas e precisam de lucros. Cabe a nós, quadrinhistas brasileiros, melhorar a qualidade no nosso material.
Diogo: A cultura em geral precisa de todo o apoio que puder conseguir. a iniciativa do governo de Joinville é louvável e tem ajudado em muito o desenvolvimento de todo o tipo de arte na cidade, com isso, tem se melhorado muito a qualidade do que é produzido também.


2- Seu desenho lembra um pouco o estilo do Mike Mignola. Talvez seja até uma percepção muito particular minha e eu esteja equivocado. Mas, quais foram os suas principais influências desde quando começou a desenhar?
Pablo: A semelhança vem do contraste e do minimalismo do desenho. Acho que termina por aí. Minhas influências vem de tudo que vejo em quadrinhos e pinturas. Sento na prancheta e desenho do meu jeito. E o que sai é isso que vocês podem ver na A Casa ao Lado.

3- Qual o primeiro contato que vocês tiveram com os quadrinhos?
Pablo: Meu pai é cartunista. Sempre tive milhares de quadrinhos em casa. Lia muito Fradim (Henfil), Rango (Edgar Vasques), Mineirinho (Ziraldo), Laerte e assim vai… Depois peguei gosto por quadrinhos de heróis. Uma breve fase. Hoje não gosto.
Diogo: Aprendi a ler com quadrinhos. Histórias dos gibis da Disney em geral. Em seguida comecei a acompanhar o Homem-Aranha e a coisa fluiu daí. Estava sempre desenhando também, criando meus heróis, fazendo continuação de histórias de seriados de TV.

4- Li sobre o fanzine Muco de vocês. Senti uma retomada de bons fanzines. Ainda planejam continuar editando?
Diogo: Muco foi nossa primeira tentativa, junto com nosso comparsa Paulo Gerloff. Teve três edições, todas com seu “evento de lançamento”, que era sempre o único lugar onde se podia adquiri-lo, pois cada edição teve no máximo 30 exemplares. Havia em cada edição uma mensagem incentivando o leitor a fazer cópias e distribuir por aí também, mas nunca tive notícia de ninguém que o tenha feito.
Pablo: O Muco é nossa “menina dos olhos”. Sempre prezamos a qualidade gráfica. A linha é humor, que gostamos muito de fazer. O plano é continuar editando sim, mas antes, faremos um encadernado com as duas melhores histórias de cada um e uma nova.

5- Como surgiu a idéia do álbum?
Pablo: Cheguei para o Diogo e disse: “Vamos fazer um álbum em quadrinhos. Pensei em fazer sobre uma casa abandonada e um cara. Pode fazer esse roteiro?” E assim foi…
Diogo: É como o Pablo disse. Surgiu o convite da parte dele para que eu escrevesse, mas tinha que ser sobre uma casa misteriosa e um homem. Nunca havia escrito nenhuma história de mistério, mas fazia sentido que começássemos sabendo qual era o final dela, antes de contar o começo. Uma vez com a solução do mistério em mãos, foi questão de preencher as lacunas, criar e desenvolver os personagens, situações… Pra mim, foi realmente um processo de aprender fazendo.

6- Você, Pablo, publica tiras no jornal A Notícia e faz diversas ilustrações para outras publicações. Consegue já viver do trabalho de quadrinhista?
Pablo: Sim. Vivo disso desde os 18 anos. Comecei cedo trabalhando em jornal. Mas, para sobreviver, tenho de fazer Ilustração, tirinha e as vezes até charge.
Diogo: Eu sou ilustrador, tenho meu próprio estúdio e procuro pagar as contas em dia atendendo agências de publicidade e editoras. Se fosse viver de escrever e fazer quadrinhos, provavelmente não daria.

7- Vocês acompanham os novos autores da sua cidade? Acreditam que exista alguma dificuldade de interação entre os diversos artistas independentes do país?
Pablo: Os artistas independentes nunca estiveram tão unidos. A internet está aí pra isso.
Diogo: Falar em dificuldade de interação hoje em dia, é sacanagem. Existe tudo quanto é recurso para que você mantenha contato com outros artistas, acompanhe o trabalho e troque idéias, e tem muito artista por aí interessadíssimo nesse tipo de contato. Estamos sempre abertos a conhecer novos artistas, experientes ou iniciantes, e em nossas viagens de lançamento do álbum, fomos recebidos com grande interesse por muitos artistas locais. Foi fascinante.

8- Existe alguma HQ brasileira que dialogue com a obra de vocês, alguma que os influenciou?
Pablo: Acho que não. Na realidade, fizemos nossa história sem pensar em outras. Queríamos contá-la do nosso jeito.
Diogo: Realmente quisemos contar uma história do nosso jeito. As referências fluem naturalmente como uma coisa inconsciente mesmo. Tentamos fazer tudo de uma maneira muito honesta e verdadeira.

9- E como surgiu o contato com a editora HQM?
Diogo: No início do ano, na iminência de ter 2000 exemplares do álbum encalhados em casa por falta de distribuição, surgiu a idéia meio que tardia de ir atrás de uma editora. Tentamos algumas, até que nosso amigo e mestre, o José Aguiar, nos indicou a HQM, com quem havia acabado de lançar seu álbum, o Quadrinhofilia.
Pablo: Entramos em contato com o Carlos, nosso editor, mandamos o PDF e perguntamos se interessava. Pra nossa sorte, a resposta foi positiva e nosso álbum saiu da melhor maneira possível graças a isso.

10- Quais as expectativas com o lançamento do álbum?
Pablo: A expectativa é de que as pessoas gostem e quem sabe, trazer o leitor que não costuma ler quadrinhos para o nosso lado. Acho que é isso.
Diogo: Acredito que demos um passo muito importante. Agora é esperar que venham as impressões de cada leitor sobre nossa história. Depois que fizemos os lançamentos, começaram a surgir os comentários de quem leu, e até agora estão todos muito contentes com nosso trabalho. Isso é muito legal, principalmente para iniciantes como nós.

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