7/06/2009

ENTREVISTA: Eduardo Manzano

Eduardo Manzano é um daqueles raros artistas em que a sensibilidade flui espontaneamente. Através de sua visão rica em detalhes, seus textos caíram no gosto do público e sua legião de fãs pelo Brasil cresce rapidamente. Com um bom gosto invejável, um estilo pessoal refinado e com traços marcantes, Manzano vem se destacando cada vez mais no cenário underground. Nessa entrevista concedida ao amigo Carlos Henry para o nosso blog, ele fala sobre como começou a gostar de quadrinhos, sobre seus trabalhos, suas influências, seus projetos, sobre o cenário das HQs, dentre outros assuntos. Confira o bate-papo:

Por: Carlos Henry

Você tomou contato com as HQs através de uma coleção dos seus pais. O que eles liam?
Isso foi quando eu tinha seis anos e comecei a aprender a ler. Meus pais compravam gibis para eles e para mim. Geralmente era algo da Disney, Turma da Mônica ou Asterix. Meu gostava muito de Diabolic, Tex e Ziraldo. Eu lia tudo também e a partir daí, nunca mais parei.

Mudou alguma coisa hoje em dia?
Hoje em dia eles lêem muito pouco. O estilo agora é mais livros.

Pelo que fiquei sabendo, seu avô também trouxe uma certa influência para você...
É verdade. Meu maior incentivador mesmo foi o meu avô, que me deu a maior força nos desenhos desde o início. Por ele ser uma pessoa muito culta, tomei gosto pela literatura. Pena tê-lo perdido muito cedo.

Nos Fanzines eu Sou Uma Bosta Respeitada!

Qual a opinião deles sobre seus trabalhos?
Eles gostam e curtem muito meus trabalhos. Meu pai acompanha mais de perto, já que minha mãe não mora conosco. Ele curte os zines. Outro dia demos boas risadas quando ele disse: “ Você dá diversas entrevistas e é respeitado nos fanzines, mas nas editoras você não é bosta nenhuma”. Pelo menos em algum lugar eu sou uma bosta respeitada.

Seu estilo era meio cartum e você decidiu deixá-lo de lado para se dedicar a outro traço. Por que?
Basicamente decidi deixar de lado o estilo cartum e procurar algo mais complexo, pela necessidade de desenvolvimento artístico e de expressão. Isso se deu após tomar contato com os trabalhos do Alan Moore e Neil Gaiman. A procura por um traço próprio também pesou muito. Mas uma vez ou outra faço trabalhos com outros estilos.

Por exemplo...
Em meus trabalhos para a editora que exerço como free lancer, faço ilustrações infantis.

Você já publicou em zines de Portugal, Itália, Uruguai e Estados Unidos. Quais as exigências que eles fazem?
No exterior, publiquei quando eu mesmo enviei o material para as publicações de lá ou quando eles entraram em contato comigo após terem visto algum material publicado nos zines daqui.

Como foi a receptividade dos seus trabalhos nesses países?
A repercussão foi restrita ao público underground. Eles têm uma mentalidade um pouco mais profissional que a nossa. Lá os fanzines são sérios e respeitados. Trabalham com divulgação e tem até cooperativas e pequenas editoras que publicam os zines para os autores. Em alguns países no qual meu trabalho foi publicado, os editores me escreveram dizendo que receberam diversas cartas elogiando as minhas HQs. Inclusive elas deveriam sair em alguma coletânea com melhor material gráfico.

Essas HQs enviadas aos Estados Unidos não tem nada de super herói...
De jeito nenhum. São minhas HQs realistas mesmo.

Não é Porque Temos Liberdade de Expressão Que Devemos Encher os Fanzines de Porcarias!
Muitos autores têm feito HQs filosóficas mas de conteúdo vazio. O que pode ser feito para mudar este gênero e evoluir com qualidade?
Esta é uma questão delicada, já que os zines estão abertos a todo tipo de trabalho, seja bom ou não. No caso das HQs filosóficas, existem pessoas que desenvolvem um trabalho muito legal, a exemplo do Edgard Franco, Gazy Andraus, Rosemário, Al Greco e Erika Saheki. Porém, muitos usam-se da máxima que fazem trabalhos “subjetivos” e infestam os zines com todo tipo de porcaria possível. Acho que cabe aos leitores peneirar os garatujistas, dando espaço a quem realmente tem algo a dizer.

Quais os melhores e piores deste gênero?
Os maus exemplos estão aí e são muitos. É só conferir nos zines. Não é porque temos liberdade de expressão que vamos atolar os fanzines com porcarias. Bom senso nunca é demais. Mas tem muita gente boa também, além dos que já citei, poderia incluir o Luciano Freiberger, Nuno Nisa, Luiz Alves e Diogo Henrique.

Como tem sido a receptividade dos leitores ao seu trabalho?
Tem sido maravilhoso. Desde que lancei o meu novo estilo, tenho participado de muitos zines e dado diversas entrevistas. Hoje já posso dizer que tenho um nome respeitado dentro do circuito. Tenho feito muitos amigos também, pois em primeiro lugar vem a amizade a honestidade mútua.

Qual a importância dos fanzines no meio underground?
Tenho pregado uma evolução de nossos zines, tenho divulgado um trabalho de conscientização dos editores, visando uma melhora nas publicações e consequentemente, aumentar sua sobrevivência. No meu trabalho, tenho a preocupação de levar ao leitor um material com argumentos fortes e bons desenhos, o que tem ganho o respeito de todos que lêem. Só tenho a agradecer as cartas que recebo com apoio.

Muitos editores argumentam que os zines têm que ser mau xerocados, bagunçados e descompromissados. Qual sua opinião?
Não concordo. Os zines devem procurar uma evolução dentro dos seus parâmetros e no que se delimita underground. Devemos levar em consideração nossa realidade econômica e pensar que gastar dinheiro com algo descompromissado e mau feito é pura utopia. Com excessão é claro, daqueles que possam custear tal aventura por mero passatempo, o que creio não é o caso de 99% de nós. Devemos crescer e mostrarmos nossos trabalhos para puxar cada vez mais pessoas para nosso lado. Assim sendo, podemos abrir os olhos dos culturalmente alienados a mudar aquela velha história dos zines brasileiros: Lançam 2 ou 3 números e param.
Quais quadrinhistas lhe influenciaram?
Procuro mostrar uma identidade própria nas minhas HQs, mas como minhas maiores influências, posso citar nos desenhos Dave Gibbons, Boris Vallejo, Emir Ribeiro, Watson Portella, Brian Bolland e Magnus. Nos argumentos, Allan Moore, Neil Gaiman, Will Eisner, Roy Thomas, Pat Mills e Hernandez Brothers.

Dá para ganhar dinheiro com seus traços?
Eu tenho meu trabalho, mas também ganho algum dinheiro como free-lancer para alguma editora ilustrando material de bandas e dando aulas de desenho.

Como tem visto o cenário atual da HQ nacional?
Enquanto imperar na cabeça dos leitor que o material importado é melhor que o nosso, pouca coisa irá mudar. Temos ótimos artistas aqui, melhores até que os de lá. Deve haver entre editores e artistas, uma discussão que traga resultados. Acho também que os zines podem conseguir essa união.









Nenhum comentário: