4/08/2009

Quadrinhos sem futuro

Por: Alex Sampaio*

Apesar de muito estardalhaço na mídia e todo noticiário especulativo em torno de uma revitalização dos quadrinhos, principalmente com grandes sucessos que o cinema proporciona a 8º arte, em detrimento dos personagens de grande apelo popular, a realidade das HQs são bem diferentes dos que muitos acham e acreditam. Os quadrinhos sempre estiveram associados a diversão, mas muitas vezes com uma conotação inferior ou tratado com ojeriza. Lamentavelmente, vivemos numa nação sem princípios educacionais e notadamente sem costume de leitura. Entende-se assim, que abrangendo a conjuntura econômica e social, chegamos a números lastimáveis para uma população tão grande quanto a nossa.

Já vivemos com tantas bestialidades no nosso país e saber que somos tão medíocres na leitura, é de arrepiar. Estamos sempre remando contra a maré. A fama do Brasil na imprensa estrangeira já não é boa. O país é associado à destruição das florestas, violência contra a mulher, a infância abandonada chega a níveis intoleráveis, prostituição infantil, trabalho escravo em pleno Século XXI, tráfico internacional de mulheres e drogas, a doenças endêmicas e à violação de direitos humanos. Tem um ditado que explica bem essa questão cultural: O país que não educa seu povo, jamais será desenvolvido.

Como fazer um povo ler? Como acreditar numa população, quando um dos princípios básicos para o desenvolvimento da leitura acontece na escola e a nossa escola pública está completamente deteriorada? Nossas HQs sofrem com estes descasos, pois o costume da leitura começa cedo e nossos quadrinhos poderiam estar nas salas de aula, educando e convivendo com os futuros leitores e prováveis colecionadores de gibis. Como não existe uma filosofia voltada para leitura nesse país, sabemos que poucos migrarão para a 8º arte.

Conviver com tantos percalços, é desanimador. Toda arte busca um público, pois um artista sem público é de fato um desanimado sem ver o alcance da sua arte. Isso se reflete em vários setores e não somente nos nossos quadrinhos. Percebe-se perfeitamente que a cada ano o público leitor se afasta. Vários fatores estão ligados a esse distanciamento, desde o custo elevado de uma revista em banca, a péssima distribuição de renda do país. Acontece, que muito poderia ser feito para debelar esses inconvenientes tropeços, principalmente com uma política de subsidio aos produtos ligados a arte, educação e entretenimento. Só assim seriamos primeiro mundo.

*Alex Sampaio é colecionador de gibis, editor do zine Made in Quadrinhos e colunista de diversos sites na Internet.

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