10/05/2009

Desenhos animados brasileiros ganham espaço

Meu Amigãozão, uma produção nacional com estréia prevista para fevereiro de 2010 é o novo desenho animado produzido pela produtora carioca 2DLab. A série já foi negociada com o Discovery Kids América Latina e com a TV Brasil. O desenho foi financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que também deverá dar aporte a mais duas produções do gênero, para serem exibidos em canais pagos e na TV aberta. Uma das exigências do banco estatal brasileiro, é que as produções brasileiras sejam aliadas a produtoras internacionais para garantir que as séries sejam exibidas também no exterior.

O caminho de desenhos animados brasileiros até a programação infantil no Brasil nunca foi simples, já que as televisões nacionais preferem comprar os direitos de exibição de animações que já foram veiculadas em outros países. Isso as torna mais baratas e com a vantagem de já terem sido testadas em algum lugar.

A dificuldade de encontrar um mercado, no entanto, tem deixado os produtores brasileiros de fora de um setor que tem crescido bastante. Uma estimativa citada pelo BNDES feita pela revista KidScreen, focada no mercado de entretenimento infantil, indica que o mercado de desenhos animados no mundo cresceu de US$ 8 bilhões em 1995 para US$ 80 bilhões atuais.

Um exemplo de sucesso, foi a estréia da série Peixonautas, produzida pela TV Pinguim, com sede em São Paulo. O desenho brasileiro estreou no canal Discovery Kids e repercutiu bem. Foi a primeira produção animada brasileira a ocupar um espaço no canal, que inclusive foi um dos co-produtores da série.

10/02/2009

O caminho da simplicidade

Por: Fernando Lopes*

Quando comecei a ler quadrinhos de super-heróis, há quase vinte anos, fui imediatamente cativado por um fato interessante: os personagens tinham vida própria! Até então, nunca tinha me ocorrido que aquelas roupas espalhafatosas deixassem o mínimo de espaço para uma história.

Minha concepção de super-heróis, na época, restringia-se ao que eu conhecia do desenho dos Superamigos: um bando de caras com a cueca por fora das calças reunidos o dia inteiro na Sala da Justiça rezando para que o bendito alerta de perigo tocasse e eles tivessem uma boa desculpa para deixar de aturar aqueles malas dos Super-Gêmeos.

Imaginem minha surpresa ao ver que aqueles fugitivos de baile carnavalesco tinham um passado, uma motivação, aspirações... Eram, enfim, personagens ligeiramente menos bidimensionais do que eu supunha. É bem verdade que, via de regra, as histórias tinham a profundidade de um pires e os personagens restringiam-se a um amontoado de estereótipos feitos sob medida para agradar recalques adolescentes. Mas, que diabos! Eu era adolescente! Nada mais justo, portanto, que eu me identificasse com os problemas daqueles camaradas e passasse a acompanhar suas aventuras e desventuras mensais.

Mais do que os poderes mirabolantes ou as atuações heróicas, os quadrinhos prenderam-me por um conceito que eu até então desconhecia: a continuidade. Diferentes dos heróis da literatura, cujas aventuras ficam restritas a um dado período de tempo, deixando o leitor órfão no final do livro, carente de novas emoções, os personagens de quadrinhos estavam sempre sujeitos a mudanças, mais ou menos como na vida real. Era como acompanhar uma novela que se desenrolava mensalmente nas páginas de cada gibi. Posso estar enganado, mas sinto que a maioria dos fãs do gênero compartilham desse sentimento, em maior ou menor escala.

Por mais fascinante que seja o conceito, porém, a continuidade é uma verdadeira armadilha. Quando ela se torna confusa a ponto de desnortear até mesmo o mais fiel dos leitores, deixa de ser um atrativo para tornar-se um monstro capaz de afugentar o fanboy mais babão. Falo com conhecimento de causa: aconteceu comigo e arrasou minha relação com os personagens da Marvel.

E é curioso notar como tanto Marvel quanto DC acabaram prisioneiras de suas confusas cronologias. Tentam, em vão, contentar os fãs mais antigos e ainda atrair fãs mais novos, falhando fragorosamente nos dois casos. Os primeiros normalmente são os chatos que dedicam a vida a reclamar dos buracos na continuidade. Já os novatos pegam o bonde andando, não entendem patavina do que está acontecendo e fogem assustados na primeira oportunidade.

Gerenciar o tempo é confuso, seja na vida real ou nos quadrinhos. Os editores deveriam ter isso em mente e trabalhar a cronologia de modo mais racional. Plots intermináveis, espalhados por dúzias de revistas, com milhares de pontas soltas e recordatórios a cada dois quadrinhos só servem para aporrinhar o leitor. Talvez seja a hora das editoras buscarem o caminho da simplicidade: arcos curtos, histórias fechadas, planejamento coerente, evolução gradativa. Pode até não ser a solução, mas certamente tornará a vida dos leitores bem menos complicada.


*Fernando Lopes é jornalista e amante dos quadrinhos

10/01/2009

ENTREVISTA: Pablo Mayer e Diogo César

A dupla Pablo Mayer e Diogo César, autores de A Casa Ao Lado são os mais representativos exemplos dos quadrinhos catarinenses. Eles acabam de lançar o primeiro álbum por uma editora, a HQM, o que mostra que o interesse por novos desenhistas e roteiristas de quadrinhos está crescendo além da Internet. A Casa Ao Lado, foi publicado com apoio do governo de Joinville e conta a história de Jorge, um homem separado e desempregado que, repentinamente, se vê numa trama de mistério após seu filho desaparecer em uma casa mal-assombrada ao lado da sua. Confiram a entrevista abaixo:

Por: Paulo Floro

1- Vocês tiveram apoio público para terminar o álbum. Acreditam que quadrinhos no Brasil precisam mais desse incentivo ou as editoras também precisam acordar para publicar mais autores nacionais?
Pablo: Todo incentivo é importante. O quadrinhista precisa se esforçar para mostrar o seu trabalho e procurar meios para fazê-lo. As editoras estão acordando, basta ver a quantidade de material nacional que elas andam publicando. Falamos muito na injustiça do mercado, que valoriza demais os autores estrangeiros, mas esquecemos que as editoras são empresas e precisam de lucros. Cabe a nós, quadrinhistas brasileiros, melhorar a qualidade no nosso material.
Diogo: A cultura em geral precisa de todo o apoio que puder conseguir. a iniciativa do governo de Joinville é louvável e tem ajudado em muito o desenvolvimento de todo o tipo de arte na cidade, com isso, tem se melhorado muito a qualidade do que é produzido também.


2- Seu desenho lembra um pouco o estilo do Mike Mignola. Talvez seja até uma percepção muito particular minha e eu esteja equivocado. Mas, quais foram os suas principais influências desde quando começou a desenhar?
Pablo: A semelhança vem do contraste e do minimalismo do desenho. Acho que termina por aí. Minhas influências vem de tudo que vejo em quadrinhos e pinturas. Sento na prancheta e desenho do meu jeito. E o que sai é isso que vocês podem ver na A Casa ao Lado.

3- Qual o primeiro contato que vocês tiveram com os quadrinhos?
Pablo: Meu pai é cartunista. Sempre tive milhares de quadrinhos em casa. Lia muito Fradim (Henfil), Rango (Edgar Vasques), Mineirinho (Ziraldo), Laerte e assim vai… Depois peguei gosto por quadrinhos de heróis. Uma breve fase. Hoje não gosto.
Diogo: Aprendi a ler com quadrinhos. Histórias dos gibis da Disney em geral. Em seguida comecei a acompanhar o Homem-Aranha e a coisa fluiu daí. Estava sempre desenhando também, criando meus heróis, fazendo continuação de histórias de seriados de TV.

4- Li sobre o fanzine Muco de vocês. Senti uma retomada de bons fanzines. Ainda planejam continuar editando?
Diogo: Muco foi nossa primeira tentativa, junto com nosso comparsa Paulo Gerloff. Teve três edições, todas com seu “evento de lançamento”, que era sempre o único lugar onde se podia adquiri-lo, pois cada edição teve no máximo 30 exemplares. Havia em cada edição uma mensagem incentivando o leitor a fazer cópias e distribuir por aí também, mas nunca tive notícia de ninguém que o tenha feito.
Pablo: O Muco é nossa “menina dos olhos”. Sempre prezamos a qualidade gráfica. A linha é humor, que gostamos muito de fazer. O plano é continuar editando sim, mas antes, faremos um encadernado com as duas melhores histórias de cada um e uma nova.

5- Como surgiu a idéia do álbum?
Pablo: Cheguei para o Diogo e disse: “Vamos fazer um álbum em quadrinhos. Pensei em fazer sobre uma casa abandonada e um cara. Pode fazer esse roteiro?” E assim foi…
Diogo: É como o Pablo disse. Surgiu o convite da parte dele para que eu escrevesse, mas tinha que ser sobre uma casa misteriosa e um homem. Nunca havia escrito nenhuma história de mistério, mas fazia sentido que começássemos sabendo qual era o final dela, antes de contar o começo. Uma vez com a solução do mistério em mãos, foi questão de preencher as lacunas, criar e desenvolver os personagens, situações… Pra mim, foi realmente um processo de aprender fazendo.

6- Você, Pablo, publica tiras no jornal A Notícia e faz diversas ilustrações para outras publicações. Consegue já viver do trabalho de quadrinhista?
Pablo: Sim. Vivo disso desde os 18 anos. Comecei cedo trabalhando em jornal. Mas, para sobreviver, tenho de fazer Ilustração, tirinha e as vezes até charge.
Diogo: Eu sou ilustrador, tenho meu próprio estúdio e procuro pagar as contas em dia atendendo agências de publicidade e editoras. Se fosse viver de escrever e fazer quadrinhos, provavelmente não daria.

7- Vocês acompanham os novos autores da sua cidade? Acreditam que exista alguma dificuldade de interação entre os diversos artistas independentes do país?
Pablo: Os artistas independentes nunca estiveram tão unidos. A internet está aí pra isso.
Diogo: Falar em dificuldade de interação hoje em dia, é sacanagem. Existe tudo quanto é recurso para que você mantenha contato com outros artistas, acompanhe o trabalho e troque idéias, e tem muito artista por aí interessadíssimo nesse tipo de contato. Estamos sempre abertos a conhecer novos artistas, experientes ou iniciantes, e em nossas viagens de lançamento do álbum, fomos recebidos com grande interesse por muitos artistas locais. Foi fascinante.

8- Existe alguma HQ brasileira que dialogue com a obra de vocês, alguma que os influenciou?
Pablo: Acho que não. Na realidade, fizemos nossa história sem pensar em outras. Queríamos contá-la do nosso jeito.
Diogo: Realmente quisemos contar uma história do nosso jeito. As referências fluem naturalmente como uma coisa inconsciente mesmo. Tentamos fazer tudo de uma maneira muito honesta e verdadeira.

9- E como surgiu o contato com a editora HQM?
Diogo: No início do ano, na iminência de ter 2000 exemplares do álbum encalhados em casa por falta de distribuição, surgiu a idéia meio que tardia de ir atrás de uma editora. Tentamos algumas, até que nosso amigo e mestre, o José Aguiar, nos indicou a HQM, com quem havia acabado de lançar seu álbum, o Quadrinhofilia.
Pablo: Entramos em contato com o Carlos, nosso editor, mandamos o PDF e perguntamos se interessava. Pra nossa sorte, a resposta foi positiva e nosso álbum saiu da melhor maneira possível graças a isso.

10- Quais as expectativas com o lançamento do álbum?
Pablo: A expectativa é de que as pessoas gostem e quem sabe, trazer o leitor que não costuma ler quadrinhos para o nosso lado. Acho que é isso.
Diogo: Acredito que demos um passo muito importante. Agora é esperar que venham as impressões de cada leitor sobre nossa história. Depois que fizemos os lançamentos, começaram a surgir os comentários de quem leu, e até agora estão todos muito contentes com nosso trabalho. Isso é muito legal, principalmente para iniciantes como nós.